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“Fidel anunciou o meu nascimento e eu a sua morte”

É talvez o obituário mais sentido e, talvez, crítico do ex-presidente de Cuba. Foi escrito por Juan Juan Almeida, jornalista de Martí Noticias e filho de Juan Almeida, um dos heróis da Revolução da ilha, ao lado de Fidel e Raúl Castro e Che Guevara.

Mas Juan Juan Almeida não tem uma devoção pelo homem que anunciou o seu nascimento. Pelo contrário. “A morte de Fidel Castro não soluciona nem apaga os problemas do meu país, mas abre uma porta à unidade definitiva de todos os cubanos”, escreveu no Facebook.

O jornalista nasceu em Havana e vive agora em Miami. Sofre de uma doença degenerativa que não podia ser tratada em Cuba e chegou a fazer uma greve de fome em protesto pelo facto de lhe negarem a saída do país para procurar apoio médico no estrangeiro. Também foi preso por se opor ao governo.

Hoje é um dos mais críticos de um dos ‘Comandantes da Revolução’. E explica tudo no obituário que escreveu em especial para a BBC Mundo.

“O dia em que acariciei a barba de Fidel e deixei de acreditar nele”
É assim que tudo começa. Com esta frase.

“Sentimentos contraditórios. É isso que eu sinto ao escrever um obituário para quem, num solarengo 2 de dezembro, anunciou da sua tribuna na Praça da Revolução o meu nascimento”, começou por escrever.

“Fidel pode dividir-se em dois. O interno – ou seja, o que diz respeito unicamente a Cuba e aos cubanos – e o externo, o internacional. Mas eu prefiro falar dessa primeira versão, do meu Fidel pessoal”, avisou o jornalista.

De seguida fala de como queria jogar beisebol com o pai, mas que lhe era sempre negado por Castro. “Deverias estar orgulhoso porque Almeida, ao lado do comandante-chefe, anda ocupado a cumprir tarefas importantes para a pátria”, era a explicação que ouvia.

Até que chegou o dia em que viveu “a primeira mentira” do homem “comparado a Deus”. Juan Juan estava a chegar a casa, depois da escola, e viu o pai na rua, encostado a um jipe. Abraçou-o até que viu que na viatura estava Fidel.

“Pedi que ele me deixasse acariciar a sua barba e ele não só autorizou como também me prometeu, com um meio sorriso, que quando acabasse os deveres da escola, podia dar um passeio no seu carro”, contou.

A criança fez as tarefas “a uma velocidade ultra-sónica”, mas Fidel tinha fugido. “Embora os meus pais me tivessem tentado explicar, naquele dia eu deixei de acreditar nele como um herói honesto, decidido e que amava crianças”, explicou, ainda que saliente que “não me alegra a morte dele”.