Era conhecido pelos seus discursos longos que se prolongavam horas e horas. O seu último, uma antevisão da sua própria morte, durou apenas 11 minutos.
Abril de 2016. Fidel Castro faz uma aparição rara no encerramento do congresso do Partido Comunista cubano em Havana.
“Em breve vou fazer 90 anos. Nunca pensei que isso acontecesse e não foi fruto de nenhum esforço. Foi um capricho do destino. Em breve serei como todos os outros, a todos chegará a nossa vez, mas as ideias dos comunistas cubanos ficarão”, disse.
Poupou as palavras, mas os 1300 delegados do congresso comunista – “o último dirigido pela geração histórica’, segundo o irmão Raúl Castro – não pouparam as palmas e as lágrimas.
Fidel quase que parecia premeditar o seu destino. “Esta será uma das últimas vezes em que vou falar naquela sala”, disse o antigo presidente, acrescentando que os ideais do Partido Comunista devem continuar bem vivos.
“Prova de que, neste planeta, se trabalharmos muito e com dignidade, podemos atingir os objetivos”, adiantou.
16 de outubro de 1953. Fidel Castro está a ser julgado por tentar derrubar o regime de Fulgencio Batista no “assalto ao Quartel Moncada”.
Nesse dia conhece a sentença. Durante quatro horas, defende-se a si próprio. Formado em Direito, tinha-se proclamado como o seu próprio advogado de defesa.
Acusou o regime e Batista, descrevendo-o de “tirano”, curiosamente o mesmo adjetivo que os exilados cubanos em Miami atribuem agora a Fidel.
“Quanto a mim, sei que a prisão será dura como nunca o foi para ninguém, cheia de ameaças, de uma ruim e covarde crueldade, mas não a temo, como não temo a fúria do miserável tirano que tirou a vida a 70 dos meus irmãos. Condena-me, não me importo. A história me absolverá”, disse, num discurso que acabou por virar um livro.
O momento foi registado através dos jornalistas ali presentes. Marta Rojas era uma delas.
Dois anos depois do julgamento, Fidel Castro e os revolucionários tomaram o poder em Cuba. Fulgencio Batista fugiu da ilha. E o resto, realmente, é História.
Esteve 47 anos no poder. Implementou o sistema socialista, nacionalizou bancos e empresas, fez a reforma agrária e nos sistemas de educação e saúde, expropriou as grandes propriedades e o Partido Comunista dominou a vida política de Cuba. Pelo menos até à sua morte, a 25 de novembro de 2016.
“Até à vitória, sempre”, outra das suas frases emblemáticas, foi a despedida escolhida pelo irmão Raúl Castro, durante o anúncio da morte de ‘El Comandante’.