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Namorada do príncipe Harry fala pela primeira vez sobre as suas origens

Antes de ser “a namorada do príncipe Harry”, Meghan Markle já era uma atriz reconhecida no meio. No entanto, a relação com o irmão do herdeiro à coroa britânica trouxe-lhe mais visibilidade a si e à sua família, de tal forma que a protagonista de ‘Suits’ se viu “obrigada” a esclarecer alguns factos sobre as suas origens, falando assim pela primeira vez sobre a sua descendência africana.

Embora à primeira vista possa não aparentar, a jovem é filha de mãe negra e pai branco, o que muitas vezes levou a que tivesse de lutar contra verdadeiras crises de identidade e, até, actos de racismo.

Na sua página de internet, Meghan partilhou um longo texto onde aborda esses assuntos. Ciente da curiosidade em torno dos progenitores, a namorada de Harry começa por afirmar que “poderia fugir a essas questões e dizer simplesmente que eles são da Pensilvânia e Ohio”. No entanto, sem medo de represálias e mostrando que lida bem com o assunto, a atriz responde de forma direta e sem rodeios: “o meu pai é branco e minha mãe é afro-americana. Eu sou metade preto e metade branco”.

“Bem definida”, Meghan revela ainda que “enquanto bi-racial, nem sempre foi fácil comentar a questão, mas hoje sinto-me com mais forças para o fazer”.

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Criada em Los Angeles, Markle recorda que os pais se “conheceram no final dos anos 70 quando ele era diretor de iluminação de uma novela e a minha mãe fazia figuração”. “Gosto de pensar que o meu pai foi atraído pelos olhos doces dela e pelo seu cabelo estilo afro, além do gosto comum por antiguidades. Fosse o que fosse, eles casaram e tiveram-me”, testemunha a atriz relembrando que “muitas vezes, graças ao seu tom de pele caramelo, as pessoas assumiam que a minha mãe era a minha baby-sitter”.

“Ainda muito jovem”, Meghan sentia-se “especial”, sem perceber o enorme burburinho em torno da sua “família multi-racial”. “A primeira vez que percebi que eramos ‘diferentes’ foi quando, na época de Natal pedi como prenda uma coleção de bonecas ‘Barbie’ onde vinha a família perfeita com a mãe, o pai, e dois filhos. Mas essa não mostrava a ‘minha família perfeita’. Nas caixas apenas havia a opção família negra, ou família branca”, lembra sublinhando que o pai encontrou a solução. “Na manhã de Natal, envolta em papel de embrulho brilhante lá encontrei a minha família tal e qual a conhecia: uma mãe preta, um pai branco e um filho de cada cor. O meu pai tinha desmontado os conjuntos e personalizado a minha prenda”.

Mais tarde, “já no liceu”, a então adolescente viu-se a braços com “a dúvida”. “Numa aula de inglês tive de responder a um censo obrigatório e nas caixas para indicar a etnicidade havia apenas as opções branco, preto, hispânicos ou asiáticos”, nas quais Meghan não “encaixava”. “Lá estava eu (meu cabelo crespo, meu rosto sardento, minha pele pálida, minha raça mista) a olhar para estas caixas, sem saber o que fazer. Só podia escolher um, mas isso seria escolher um dos pais e uma metade de mim mesmo sobre o outro”, acrescentou recordando a resposta do professor: “Ele disse-me para selecionar a caixa dos caucasianos porque era com quem mais parecia”.

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Determinada, a menina negou-se a fazê-lo. “Não como um ato de rebeldia, mas sim um sintoma da minha confusão. Eu não tive coragem de fazer isso, imaginava a tristeza que minha mãe sentiria se descobrisse. Então não marquei nenhuma caixa. Deixei a minha identidade em branco – um ponto de interrogação, um absoluto incompleto – muito parecido com como eu me sentia”.

Nessa noite, Meghan contou ao pai o que havia acontecido. No alto da sua sabedoria de muitos anos a lutar contra o estereótipo de ter casado com uma mulher negra, Tom Markle aconselhou a filha “a desenhar a sua própria caixa”.

Desde então, a jovem “bi-racial” passou “à frente da ignorância” e aprendeu a viver com o preconceito “que muitas vezes sentia”. Meghan afirma ainda que nesse momento encontrou a sua “própria verdade”.

Para finalizar a jovem admite ser “irónico” o facto de se ter tornado atriz uma vez que esta é uma “indústria orientada para o rótulo”. Embora pudesse ter sido “transformada numa latina ou numa mulher afro-americana”, a namorada de Harry foi colocada ” no meio, como se de um camaleão étnico se tratasse”.

“Branco e preto dá cinzento. Foi assim que me senti muitas vezes, mas quem é que quer ‘ser’ essa cor indiferente, desprovida de profundidade e presa no meio? Eu certamente não. Por isso fiz uma escolha: encontrei a minha identidade dentro dessa ‘confusão’. Desenhei a minha própria caixa”, concluiu alertando para o ainda existente “tratamento racial diferenciado”.

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