Numa missão empresarial recente onde levamos sete excelentes empresas portuguesas a Macau tivemos encontros empresariais com agentes económicos locais e confirmamos a tendência, cada vez mais forte, para a qualificada consideração dos produtos regionais certificados e do vinho português.
A Lei SEPA (talvez o contrário da antiga Lei Seca) dá uma oportunidade de ouro aos produtos portugueses fazendo com que se algum aspeto de transformação – ainda que comercial – ocorra no território de Macau, se possa considerar a isenção total de impostos à importação desses produtos, extensível a todo o grande mercado da China.
Nos jantares onde se promoveram diversos encontros multilaterais não podemos deixar de ir visitar o mítico FADO, um restaurante que já tem muita história em Macau e hoje é dirigido por um Chef inspirador – o Chef Luís Américo.
O curriculum vastíssimo de Luís Américo é, talvez, a única coisa que não se come e por isso passamos de imediato a esta inesquecível experiência de cozinha lusitana a cerca de 10 mil quilómetros de Portugal.
Uma amesendação irrepreensível de um Hotel – o Hotel Royal que tem o charme dos Hotéis clássicos. Não é novo, nem é grande, o que hoje pode ser uma novidade em Macau. Mas é elegante e familiar e faz com que nos sintamos lá bem.
Entradas excelentes onde destaco, pelo aveludado da textura e pelo ponto certo de cozedura, o carpaccio de polvo. Notável a forma como os portugueses têm levado a arte de bem-fazer polvo a todos os cantos do mundo. Um bacalhau, lascado fino e marinado, também merece aplauso e sublinhado nesta lista que tem nas coisas do mar (as vieiras, em especial), nos carpaccios e nos inevitáveis ceviches, as suas propostas mais vigorosas.
Nos pratos de substância joguei em casa, insistindo, pois claro, no bacalhau à Brás. O prato é feito em “show cooking” com o Chef Luís Américo a vir à mesa fazer o casamento dos ingredientes e o empratamento. Batata finamente cortada, dizem-me que frita em azeite, bacalhau do lombo ou da barriga, no ponto de lascar. O bom do “bicho” vai a refogar em cebola fina com duas cabeças de alhos e uma folha de louro. Depois os ovos que não devem ser demasiado batidos para manterem a humidade do conjunto. Tudo é emulsionado em gestos lentos e largos para que o ovo se não esfarrape em demasia. Finalmente, o empratamento com miolo de azeitona preta finamente cortada, salsa cegada na altura e pimenta branca q.b. Prato maravilhoso, feito assim em dois tempos e com dois dedos de conversa sobre as experiências macaenses de Luís Américo.
A vitela estufada e posta a descansar e cama de puré dos muitos vegetais asiáticos passou também com altíssima distinção e deu um toque do que pode ser a comida de fusão entre as duas regiões.
Nas sobremesas os inevitáveis pudins, um toucinho-do-céu de se lhe tirar o chapéu e, claro, a estrela da companhia aqui em Macau, que é o incontornável pastel de nata. Bem dizia um famoso Ministro de Pedro Passos Coelho da importância da internacionalização do pastel de nata, com isso querendo significar as coisas melhores que temos e fazemos!
Vinhos portugueses de quase todas as regiões mostram que já há caminho feito nesta área. Mas as propostas podem ainda ser mais qualificadas, até pela crescente notoriedade que têm tido o que, aliado à crise pela qual também a classe média/alta chinesa tem passado, permite pensar em destronar mitos antigos como o que ainda é aproveitado pelos vinhos franceses. Não desfazendo, claro está!
Serviço nem sempre conhecedor, até pela “entropia” da língua mas sempre atencioso, próximo e disponível.
Os preços são justos e pode-se tomar uma refeição como esta de excelente nível sem correr o risco de passar a restante estadia em dieta compulsiva.
E pronto, nós (a AGAVI) que daqui de Portugal, levamos chás e ervas aromáticas, boas compotas e enchidos de porco bísaro, sal e pedra de sal, azeites de bela estirpe e vinagres condimentados, conservas de altíssima qualidade e vinhos de grande trapio do Alentejo, do Tejo e do Douro, não deixamos de fazer história com esta nova “rota de especiarias” que voltamos a levar ao Mundo.
Uma vénia grande a Luís Américo e à forma como tão bem faz cantar este Fado em terras Macaenses!