As conclusões da investigação foram publicadas na revista ‘Cell’ e pode ser o primeiro passo para a cultura de órgãos humanos em animais e o seu transplante em pessoas.
Os autores descrevem os progressos obtidos para integrar células estaminais pluripotentes induzidas de uma espécie, as que são capazes de dividir-se, especializar-se e gerar a maioria dos tecidos, em embriões de uma outra espécie, muito diferente.
Os resultados, alcançados graças a uma experiência com 1500 embriões de porco, “representam a prova do conceito de integração de células humanas numa espécie animal grande”, segundo a equipa de cientistas liderada pelo espanhol Juan Carlos Izpisúa Belmonte, do Instituto Salk para os Estudos Biológicos, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Depois de gerarem vários tipos de células pluripotentes humanas, os investigadores incorporaram-nas em embriões de porco, que, posteriormente, foram introduzidos em fêmeas de porco recetoras.
A experiência foi interrompida às quatro semanas de gestação das porcas, para que fosse avaliada a segurança e a eficácia da tecnologia, e também por questões éticas.
“Demonstrámos que esta tecnologia permite que um organismo de uma espécie gere um órgão composto por células de outra espécie”, sustentou o coordenador da investigação, Juan Carlos Izpisúa Belmonte, assinalando que “isto proporciona uma ferramenta muito potente para estudar a evolução das espécies, o aparecimento e o desenvolvimento de doenças e a procura de novos medicamentos, podendo conduzir, em última instância, à possibilidade de se produzir órgãos humanos para transplante”.
Apesar de ser um “primeiro passo importante”, o crescimento de órgãos humanos em porcos ainda está “muito longe”, ressalvou. Os cientistas sublinham também que os embriões resultantes eram “altamente insuficientes”.
Alguns dos embriões de porco revelaram que as células humanas se tinham especializado e convertido em precursores de distintos tecidos, como músculo, coração, pâncreas, fígado e medula, ainda que a taxa de êxito e o nível de contribuição das células humanas em porcos tenha sido mais baixo quando comparado com ratos.
A equipa de cientistas conseguiu criar ratos com pâncreas, olhos e coração de ratazanas, mas decidiu trabalhar com porcos, porque os roedores são animais pequenos e com uma fisiologia muito diferente da dos humanos.