– Dê-me um beijo na boca! -pediu-lhe ele.
Chovia desgraçadamente. O trânsito acumulara-se na autoestrada.
Ela pegou-lhe na mão que arrefecia sem pudor. Olhou-o nos olhos, perdidos nos seus, e procurava segurá-lo à vida.
– Como se chama? Diga-me! Diga-me o seu nome.
– José.
– José, aperte a minha mão. Fique comigo. Vamos ajudá-lo.
O sangue escorria pelo chão, misturado com a água da chuva. Com um pedaço de metal espetado no ventre, o homem agarrava-se aos olhos da médica que aguardava meios para levar o homem para o hospital. Nada mais podia fazer a não ser mantê-lo acordado.
– Sente dor, José?
– Não, não sinto nada.
Os olhos vidrados espelhavam as nuvens que escureciam o céu escuro. E se as pálpebras se fechavam, ela apertava-lhe, de novo, a mão, procurando aquecê-la nas suas.
– José, fique comigo.
– Fico. – respondia numa voz abafada.
– Daqui a pouco estaremos no hospital.
O enfermeiro que a acompanhara movimentava-se entre os carros, procurando afastar aqueles que dificultavam a chegada da ambulância.
Ela olhava à volta, ansiosa. Por quanto tempo o conseguiria manter vivo?
– José, José!
O homem, de olhos fechados, já não respondia.
– José! Por favor, fique comigo!
De repente, sentiu que ele lhe apertava a mão, como se lhe quisesse responder.
Avistou a ambulância que gritava no meio do trânsito. Num desespero, a médica beijou-o na boca com toda a ternura como se o mundo lhe coubesse naquele beijo, vindo do fundo do coração. O homem abriu os olhos e disse-lhe:
– Obrigado! Ainda aqui estou!
Lúcia Vaz Pedro
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Lúcia Vaz Pedro
DÊ-ME UM BEIJO NA BOCA!
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