Por Dantas Rodrigues, socio-partner da Dantas Rodrigues & Associados
Se perguntarmos aos nossos adolescentes que profissão gostariam de ter na idade adulta, uma larga maioria decerto responderá que gostaria de ser artista, seja de teatro, seja de cinema, seja do que for. O fascínio pelos palcos e pelos holofotes, com todo o glamour que os carateriza, ultrapassa, de longe, toda e qualquer outra atividade profissional.
Será a carreira de artista será compensadora, de modo a proporcionar estabilidade aos jovens que a ela ambicionam? Um recente estudo sócio laboral realizado em Espanha pela AISGE (Artistas Intérpretes, Sociedad de Gestión) – uma Fundação que se dedica à gestão dos direitos de propriedade intelectual dos atores, bailarinos e diretores de cena – concluiu que, em 2016, apenas 43% dos artistas daquele país tinha conseguido emprego. E a conclusão não se fica por aqui: diz que os ordenados são em geral muito baixos, que mais de metade dos artistas que se encontram empregados não ganha mais que três mil euros anuais e que 29% não aufere montantes acima dos 600 euros mensais.
Em Portugal não temos nenhum estudo no género – a SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) não se preocupa com estas questões! O cenário pátrio é seguramente pior do que o de aqui ao lado. E isto porque somos pequenos e pobres, os teatros, mesmo em Lisboa e no Porto, são escassos e com pouquíssimas representações semanais, a ópera e o bailado é quando o rei faz anos, os cinemas fecham uns atrás dos outros, etc., etc. E, ao contrário de Espanha, não temos o chamado teatro ligeiro, como sejam a opereta ou a zarzuela.
Perante tal panorama caberá agora fazer nova pergunta: então, e os nossos artistas vivem de quê? Os sortudos vivem da televisão e dos seus derivados: fazem dobragens (substituição da voz original de um ator estrangeiro em produções audiovisuais de filmes, desenhos animados, documentários, reality shows, etc., pela voz de um ator português); fazem apresentações de concursos televisivos e participam em novelas. Assim, com ordenados superiores a cinco mil euros mensais deveremos ter para aí uns cerca de 20 atores. Os restantes, esses, viverão como os seus confrades espanhóis, com vencimentos entre os 2500 e os 600 euros por mês.
Nova pergunta: como conseguem sobreviver? Aqui a resposta facilmente se adivinha: fazendo biscates nas suas áreas, se tal não for possível, servindo como copeiros na restauração, ou fazendo vendas, e, os mais afortunados talvez consigam um furo a dar aulas particulares ou em alguma escola profissional.
Lembro a brilhante atriz-estrela dos anos 70, Florbela Queiroz, a qual, farta de estar desempregada, pôs anúncios nos jornais a pedir trabalho. E como não conseguiu obter resposta, partiu para outra «arte» – a da cartomancia – passando a dar consultas de tarot.
Inútil referir que a atual política cultural dos estados não estimula o emprego, e os políticos, esses, só se lembram dos artistas quando as campanhas eleitorais se aproximam. E, diga-se em abono da verdade, não é só em Portugal que isso acontece. De facto, e com maior ou menor relevância, podemos observar flagrantes semelhanças connosco na já referida Espanha, na França, na Itália, em suma, nos países latinos, encontrando-se por ora resguardados os países do Norte e do Leste da Europa, onde se ganha para viver e não para sobreviver e os artistas gozam ali de certa respeitabilidade.
A vida de artista em Portugal e nos tais países latinos, por ser encarada como um hobby, não pode proporcionar trabalho estável e dignamente remunerado. Uma coisa arrasta a outra. Por conseguinte, os nossos artistas tornaram-se biscateiros, trabalham a dias e muitas vezes sem recibo, logo sem efetuar descontos para a Segurança Social, o que, a prazo, se nada de concreto for feito para inverter tal situação, acabará por transformar a velhice num pesadelo assustador. Nalguns países a vida de artista é mesmo dura.