Atualidade

Organização da Eurovisão quer cantora russa na Ucrânia

Julia Samoylova, representante da Rússia no Festival da Eurovisão, pode vir a pisar o palco, já em maio, apesar da Ucrânia ter proibido a sua entrada no país. A organização do programa já reagiu oficialmente, dizendo que respeita a decisão do anfitrião mas que quer todos os intérpretes na competição.

A cantora foi impedida de entrar na Ucrânia, por ter atuado na Crimeia (território ucraniano que a Rússia anexou em 2014).

O norueguês Jon Ola Sand, supervisor executivo da European Broadcasting Union (EBU), responsável pela Eurovisão, emitiu um comunicado, divulgado na página e nas redes oficiais do festival.

“Temos de respeitar as leis locais do país de acolhimento, mas estamos profundamente desapontados com esta decisão porque consideramos que vai contra o espírito do Concurso e a noção de inclusão que está no centro dos seus valores”, disse Ola Sand.

“Continuaremos o diálogo com as autoridades ucranianas com o objetivo de garantir que todos os artistas possam atuar no 62º Concurso Eurovisão da Canção em Kiev, em Maio”, realçou.

No site da Eurovisão lê-se ainda que se “espera mais pormenores em breve”, portanto também a organização está dependente da decisão do país anfitrião. A hipótese de ter Julia a atuar num palco russo e da sua atuação ser transmitida via satélite ao resto da Europa – algo inédito no concurso – está a ser posta em cima da mesa.

Da Rússia continuam a vir reações políticas a este impedimento.

“Do nosso ponto de vista, esta decisão é extremamente prejudicial e injusta e nós realmente esperamos que seja reconsiderada”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, aos jornalistas, referindo que espera que a “candidata russa possa participar” da Eurovisão.

Dmitri Peskov também referiu que Kiev “está a diminuir o prestígio da competição” ao privar um grande país como a Rússia de participar na Eurovisão.

A cantora, de 27 anos, com atrofia muscular espinhal desde nascença e que está numa cadeira de rodas, não compreende como o Governo ucraniano pode considerá-la uma ameaça.

“De maneira geral, não estou enervada (….). Devo continuar. Penso que de alguma forma tudo vai mudar”, disse na quarta-feira à noite Julia Samoylova ao canal público Perviy Kanal, que deverá transmitir a competição musical para a Rússia.

O serviço de informação ucraniano (SBU) proibiu-a de entrar na Ucrânia por três anos, acusando-a de ter realizado um concerto em junho de 2015 na Crimeia, cerca de um ano após a anexação da península ucraniana pela Rússia.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, declarou que a responsabilidade desta decisão ficará “na consciência dos organizadores” na Ucrânia, segunda a agência de notícias Interfax. Hoje, os meios de comunicação russos levantaram a possibilidade de um boicote da emissão na Rússia.

O que é certo é que a Rússia tinha dito que não iria participar este ano, depois da vitória da ucraniana Jamala com uma canção sobre a deportação dos tártaros na Crimeia em 1944, mas mudou de ideias. E decidiu enviar uma cantora, com uma deficiência, e um tema sobre o amor (“Flame is Burning”), provavelmente para não serem apupados durante a atuação.

As tensões entre os dois países podem estar a piorar, mas ambos sabem e sabiam bem o que esta edição da Eurovisão iria significar. Vamos ver até quando são retirados mais proveitos políticos de um “mero” concurso de músicas com repercussão mundial.