Há lugares que nos moram na memória.
São lugares em que se espera a vida com uma corda ao pescoço e em que morrer é a porta de saída.
Passei por lá como acompanhante.
Mas, quantas vezes quis ser eu a ir ao volante?
Quantas vezes quis ser eu a sair pela porta mais larga, a que me pudesse poupar o sofrimento de ver sofrer quem eu mais queria e quem eu nem sequer conhecia.
Nesses lugares não há pressa para se ir embora. A vida espera-se nos corredores a conta-gotas.
Há dias em que a memória salta a proa do navio e vagueia em alto mar sem cordas nem amarras.
O mar é belo e nele podemos velejar, mas há dias em que nos mergulha nos seus abismos mais profundos.
Recordo todas aquelas pessoas. De algumas tenho o olhar gravado na memória; a ânsia de vida que se centra na pupila do olho e desmaia quando olham os outros, Lembro-me dos profissionais, azafamados, que carregam os fardos das vidas alheias na missão de lhas salvarem. E as paredes brancas que silenciam o sofrimento como se viesse um consolo cândido do céu, que afaga as cabeças despidas de cabelo das mulheres. Nesses lugares de cordas apertadas, os homens são tão magros que parecem marionetas de olhos esbugalhados. Queria tanto abraçá-los a todos! Calar esse silêncio alvo! Parar o frenesim dos que tentam salvar vidas só por uns segundos… Para que olhassem… Para que vissem que em cada ser humano ainda há um arco-íris!
Pudesse eu abraçá-los a todos e levá-los comigo a velejar!
Lúcia Vaz Pedro