A conhecida cara da RTP e nome consagrado do jornalismo foi uma das convidadas da estilista Fátima Lopes, que apresentou a sua coleção outonal 2017-18 no Pestana Palace Lisboa. Foi nesse evento que Maria Elisa, acompanhada pela neta Amélia, de oito anos, conversou com a Move Notícias sobre a evolução da sua profissão nos dias de hoje.
Aos 66 anos, a antiga jornalista mostrou-se preocupada com alguns aspetos do jornalismo atual, “que considera ser um grande desafio” por estar a ser prejudicado pela “pressão de chegar mais depressa, nomeadamente aquilo a que os anglo-saxónicos chamam o ‘facto de check in’, ou seja, a verificação: “Muitas vezes está a sacrificar-se a verificação dos acontecimentos por não haver tempo para fazer isso sempre com medo de chegar depois dos concorrentes mais próximos. Isso é uma coisa que pode ferir muito o jornalismo. Pode feri-lo de morte”.
Embora existam assuntos que podem ser tratados “de uma forma mais superficial”, a antiga Diretora de Programas e membro do Conselho de Administração da RTP chamou a atenção para outras que necessitam “de enquadramento, de contextualização e sobretudo de verificação dos factos”, além do “conhecimento das fontes” e para o cuidado necessário na recolha da informação, para que “seja retirada de locais credíveis”.
Em relação aos jovens jornalistas, confessou ter pena pela forma como são tratados na área: “Acho que são muito pressionados, mais do que os outros, e são tratados de uma forma que às vezes é bastante cruel porque ganham mal e são obrigados a ir a tudo, a abordar todos os géneros de informação. E isso é difícil, é difícil fazer isso com rapidez e qualidade”.
Outro assunto que preocupa Maria Elisa é a precariedade existente na profissão, pois desta forma “não é possível assegurar a qualidade, não é possível assegurar o aprofundamento dos assuntos”. A culpa é muitas vezes dos grupos de media, pois escolhem pessoas mais novas “a quem se paga menos”, o que acaba por se refletir na qualidade do produto final, que acaba por sair empobrecido e perder consumidores devido a essa “falta de experiência das pessoas, que não tiveram tempo de treinar com outras mais velhas”.
O mau jornalismo é “um perigo para a sociedade, é um perigo para a democracia. Porque o jornalismo é o principal sustento da democracia”, finalizou Maria Elisa, que foi condecorada em 1987 com a Comenda da Ordem do Mérito pelo Presidente da República Mário Soares.