Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo indica que a pele do amendoim pode auxiliar na prevenção da obesidade e até da diabetes. O estudo do cientista de alimentos Adriano Costa de Camargo apontou compostos naturais desse subproduto da indústria que inibem enzimas ligadas à absorção de carboidratos e também de gordura.
Segundo o pesquisador, os benefícios estão ligados às propriedades antioxidantes da pele do amendoim e também à ação dos chamados “compostos bioativos” que diminuem a absorção das moléculas de açúcar e de gorduras, que estão relacionadas ao diabetes e à obesidade.
Camargo explica que, para serem absorvidos pelo organismo, os carboidratos (açúcares) e lipídeos (gorduras) precisam ser “partidos” em moléculas menores. “Essa quebra ocorre a partir da ação de enzimas, que podemos comparar a tesourinhas. Os compostos presentes na pele do amendoim se ligam a essas enzimas e é como se impedissem completamente ou parcialmente essas tesourinhas de cortar ou quebrar os açúcares e as gorduras”, disse.
A menor absorção de açúcares e gorduras “pode ser benéfica para o gerenciamento e prevenção do diabetes e da obesidade, respectivamente”, afirmou Adriano.
Esses compostos neutralizam a ação de radicais livres a partir da sua função antioxidante. Os radicais livres causam danos no DNA, que podem levar a modificações genéticas e progredir para um cancro.
Eles também provocam “processos inflamatórios e a formação de placas nas artérias, o que pode prejudicar e até impedir o fluxo sanguíneo até o coração, podendo levar a um enfarte”.
Outra ação comprovada em laboratório, com colaboração de um grupo chefiado por Anderson de Souza Sant’Ana, da Unicamp, foi a atividade antimicrobiana. “Testamos os compostos extraídos do amendoim e da sua pele em nove bactérias e houve inibição do crescimento bacteriano em todas elas”, disse o pesquisador.
“O teste foi feito comparando-se com o antibiótico comercial Ampicilina. Esses compostos podem vir a ser utilizados como fontes de compostos antimicrobianos naturais, que podem auxiliar na prevenção de doenças de origem bacteriana”, lembrou.
Assim como já é feita com a comercialização de farinha de semente de uva e farinha de casca de uva, o pesquisador acredita que a pele de amendoim poderá ser utilizada de forma “isolada” e estar disponível à população.
“Do ponto de vista económico, esses achados também podem contribuir para o incremento nos negócios na agro-indústria do amendoim, uma vez que a pele do amendoim, removida no processamento industrial, é um subproduto ou resíduo agro-industrial, não sendo atualmente destinado à alimentação humana”, considerou o cientista.