Cientistas chineses identificaram uma mutação no vírus da zika que pode ter contribuído para a aceleração da propagação do vírus nos últimos anos. A descoberta, que aparece na edição desta quarta-feira (17) da revista ‘Nature’, pode ajudar a explicar porque esse vírus, descoberto em África em 1947, passou a provocar epidemias cada vez maiores a partir de 2013, quando um surto foi registado na Polinésia Francesa.
Os pesquisadores, liderados por Gong Cheng, da Universidade Tsinghua, em Pequim, já tinham identificado em estudos anteriores que uma proteína produzida pelo vírus da zika, chamada NS1, era capaz de potencializar a capacidade de infecção dos mosquitos Aedes aegypti pelo vírus.
Análises de amostras de vírus da zika coletadas em dois momentos diferentes – em 2010, no Camboja, e durante a atual epidemia que afeta o Brasil e outros países – revelou que o vírus mais recente tem um potencial muito mais alto de infectar mosquitos do que o vírus coletado anteriormente.
Eles identificaram, então, uma mutação na proteína NS1 nas amostras mais atuais do vírus que pode explicar esse aumento do potencial de aquisição do vírus pelo mosquito. Essa mutação parece ter surgido em 2013, segundo os cientistas.
Linhagem africana e asiática
A ciência já tinha identificado que o vírus da zika descoberto na África nos anos 1940 é diferente do que provocou uma epidemia na Polinésia Francesa em 2013 e, desde então, se espalhou pelo mundo.
Segundo Cheng, antes de 2012, o conhecimento do vírus da zika estava concentrado apenas no ciclo de transmissão chamado enzoótico ou silvático em África, que é o ciclo de transmissão entre mosquitos e primatas não-humanos.
Porém, uma mutação que surgiu posteriormente no vírus asiático aumentou ainda mais o potencial nocivo do vírus contra os humanos.
Uma proteína contém aminoácidos alinhados numa certa sequência. A mutação identificada pelos pesquisadores na proteína NS1 do vírus da zika foi uma substituição do aminoácido alanina pelo aminoácido valina na posição 188. O que melhorou ainda mais a eficácia de transmissão do vírus da zika de humanos para mosquitos, aumentando a sua prevalência em mosquitos.
Não há evidência que essa mutação pode tornar o vírus mais perigoso para os humanos infetados, mas a equipa de cientistas está interessada em continuar a investigação para saber como essa mutação pode impactar a manifestação da doença em humanos.
Segundo Cheng, a descoberta pode levar ao desenvolvimento de estratégias que tenham essa mutação como alvo, o que poderá reduzir o número de mosquitos infetados e, consequentemente, controlar a prevalência do vírus da zika.
Ele também propõe que a imunização contra a proteína NS1 do vírus da zika em humanos poderia interromper o ciclo de vida do vírus.