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Francisco e Jacinta proclamados santos pelo Papa Francisco

O papa Francisco canonizou às 10:27 deste sábado, 13 de maio, em Fátima, os pastorinhos Jacinta e Francisco Marto. Estas são as duas primeiras crianças não mártires a ser elevadas à categoria de santos pela Igreja Católica.

A canonização põe fim a um processo que se prolongava há 67 anos.

Beatificados pelo papa João Paulo II, em Fátima, em 13 de maio de 2000, a canonização dos dois irmãos estava dependente da aprovação, pelo papa, do “milagre” anunciado pela Santa Sé, a 23 de março.

Francisco e Jacinta morreram ainda crianças, pouco anos depois de, com a sua prima Lúcia de Jesus (1907-2005), terem estado na origem do fenómeno de Fátima, entre maio e outubro de 1917.

Relicários-candeias evocam vida dos futuros Santos

O Santuário da Cova da Iria informou que os dois relicários em forma de candeia que foram transportados “em procissão junto ao andor da Senhora do Rosário” e colocados junto ao altar, durante a celebração presidida pelo Papa Francisco no recinto de oração, possuem um fragmento de osso de Francisco e uma madeixa de cabelo de Jacinta.

“Os relicários serão transportados sob um véu branco que leva, ao centro, uma cruz feita de fragmentos da veste branca usada no Batismo pelos que serão agora proclamados santos”, referiu o Santuário de Fátima.

A interpelação simbologia dos panos, explica, é a de “assumir a vocação batismal”, uma vida centrada em Deus que se torna “reflexo da luz branca com que Deus ilumina o mundo”.

Sobre o formato do relicário, o santuário mariano recorda que há 100 anos, na época dos pastorinhos, a candeia era “instrumento com que se rompia as trevas” e é a simbologia da luz que “melhor descreve a vivência” das crianças-pastores de Fátima.

Francisco
Francisco era o penúltimo filho de Manuel Pedro Marto e de Olímpia de Jesus do casal.

Francisco e Jacinta eram oriundos de uma “humilde família” de Aljustrel (na paróquia de Fátima, concelho de Ourém). Começaram a pastorear o rebanho dos pais em 1916. Foi quando andavam com os animais que disseram ter assistido às “aparições” de um anjo, nesse ano, e da Virgem Maria, no ano seguinte.

De acordo com as memórias de Lúcia, Francisco era um rapaz muito dado, mas calmo, e gostava de música, para a qual mostrava habilidade no pífaro. Via Nossa Senhora, mas não a ouvia.

Depois das aparições Francisco passou a preferir rezar sozinho. Marcado pelas palavras de Nossa Senhora para “que não ofendam mais a Deus”. Retirava-se na solidão “para consolar Jesus pelos pecados do mundo”. As três crianças, particularmente o Francisco, tinham o costume de praticar mortificações e penitências, mas que Nossa Senhora, numa das Suas aparições, pedira moderação.

No fim de 1918, Francisco adoeceu. Era a “pneumónica”, uma epidemia de gripe que juntou mais morte à morte que a I Guerra Mundial já trazia à Europa. Queixava-se à mãe de não conseguir rezar o terço todo e tinha pena de não ir à Igreja rezar ao pé do seu “Jesus escondido”. Quando Lúcia lhe perguntou se sofria, respondeu: “Bastante, mas não importa. Sofro para consolar a Nosso Senhor; e, depois, daqui a pouco, vou para o Céu.”

As crianças e os adultos gostavam de o visitar, quando já não conseguia levantar-se, porque diziam que ao pé dele sentiam uma grande paz.

Francisco Marto faleceu em casa no dia 4 de abril de 1919, antes de completar os 11 anos. Na véspera tinha comungado. O seu corpo encontra-se sepultado na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima.

Jacinta não chorou quando o irmão morreu, e dizia que não deviam chorar porque Francisco tinha ido para o Céu. Também ela tinha a certeza de que iria para o Céu, mas dizia que Nossa Senhora lhe tinha dito que ficaria mais algum tempo na terra para a conversão de mais pecadores.

Jacinta
“Gostava de ouvir o eco da sua voz regressado do fundo dos vales e a palavra que mais gostava de gritar e ouvir o eco era ‘Maria’”, lê-se na nota biográfica da “Enciclopédia de Fátima”.

As descrições falam do seu olhar doce e meigo, com olhos grandes e castanhos, muito vivos e de um coração terno e compassivo que viria a dedicar a Deus e aos pecadores. Com cerca de cinco anos terá começado a ir com os rebanhos e o irmão Francisco para os campos e, em 1916, veem por três vezes um anjo. No ano seguinte, veem Nossa Senhora. Ao contrário do irmão, que nunca ouviu o que a Senhora dizia, Jacinta viu e ouviu, a 13 de julho, o segredo que não podiam contar a ninguém exceto a Francisco.

Mais do que ouviu, foi o que viu que a impressionou: a visão do Inferno e do sofrimento dos pecadores e a visão de uma Igreja de mártires liderada por um bispo vestido de branco.

O amor aos pecadores e o zelo pela sua conversão torna-se uma característica muito marcante na vida espiritual de Jacinta e marca uma diferença com o seu irmão. “Enquanto a Jacinta parecia preocupada com o único pensamento de converter pecadores e livrar almas do Inferno, ele parecia só pensar em consolar a Nosso Senhor”, escreve Lúcia nas suas Memórias.

No outono de 1918, Jacinta foi também atingida pela “epidemia da gripe espanhola”, sendo, alguns meses depois, no verão de 1919, internada no hospital de Ourém (então designada Vila Nova de Ourém). Mais tarde, no início de fevereiro de 1920, foi para o Hospital D. Estefânia, em Lisboa, onde morreu (20 de fevereiro), pouco antes de completar 10 anos de idade.