Assumiu a sua derrota cerca de dez minutos depois do fecho das urnas e com as primeiras projeções a pô-la bem atrás de Emmanuel Macron. Marine Le Pen é este domingo, 7 de maio, a grande derrotada das eleições presidenciais francesas.
Um alívio para grande parte do mundo e em especial da Europa, já que a candidata de extrema-direita queria que França saísse da zona Euro caso ganhasse esta segunda volta.
Ainda assim Le Pen conseguiu um feito ao chegar a esta segunda volta, derrotando candidatos menos extremistas e, quiçá, mais populares. Mas nem tudo foi um mar de rosas.
Falar de Marine Le Pen sem falar de Jean-Marie Le Pen é impensável. A primeira é a atual líder da Frente Nacional (FN) e podia fazer história caso vencesse as presidenciais de França. O segundo é o seu pai, fundador do partido de extrema-direita, que tanto tem uma relação próxima como controversa com a filha.
Este domingo, 7 de maio, a candidata esteve a um passo de entrar no Eliseu, caso vencesse Emmanuel Macron. Também Jean-Marie chegou à segunda volta das presidenciais, mas de 2002. Na altura o país ficou em choque mas descobriu a filha mais nova do político. Esta empenhou-se em limpar a imagem da FN e a sua própria imagem, demarcando-se do pai e preferindo ser conhecida apenas por Marine, sendo que os anos seguintes foram de tensão crescente com o progenitor.
Recuemos até à infância de Marine. Ou melhor, Marion Anne Perrine Le Pen, como é o seu nome real. Tinha 8 anos quando escapou ilesa fisicamente, mas não psicologicamente, da explosão de uma bomba que destruiu o apartamento da família em Paris.
Estava com os pais e as duas irmãs em casa e ainda hoje não esquece este “momento difícil”. “Acordei num silêncio total. A explosão ensurdece-nos. A cama estava cheia de vidros. E aos poucos a audição começa a voltar”, recordou Marine, décadas depois, no canal M6.
As primeiras tensões com o pai surgiram na sua vida académica. Formou-se em Direito pela universidade de Paris II-Assas e a partir de 1992 passou a exercer advocacia, contrariando os desejos do pai, que desejava vê-la fazer o doutoramento antes de se iniciar na vida ativa, conforme revelou na sua autobiografia ‘À contre-flots’.
Em 1998 juntou-se ao gabinete jurídico da Frente Nacional, partido ao qual aderira aos 18 anos, ainda que as posições radicais do pai (nomeadamente anti-imigração e antissemita) a tivessem deixado marginalizada na escola.
Não nos podemos esquecer também do divórcio mediático de Jean-Marie Le Pen e de Pierrette Llana, que deixou o marido para se juntar com o biógrafo daquele. Estávamos em 1984 e num dia Pierrette saiu de casa, abandonando Le Pen e as três filhas. Furioso com o fim da imagem de casal modelo, o político ameaçou a antiga companheira dizendo que teria de limpar escadas antes de ver qualquer dinheiro dele. Esta respondeu posando para a Playboy, vestida como uma empregada doméstica sexy.
Já a vida amorosa de Marine confunde-se com a história do próprio partido. Casou-se com o empresário Franck Chauffroy, antigo colaborador da FN e pai dos seus três filhos, e divorcia-se em 2000. Dois anos depois dá o nó com Éric Iorio, ex-conselheiro regional da FN. A relação termina em 2006 e três anos depois Marine junta-se ao atual companheiro, Louis Aliot, secretário nacional do partido.
Eurodeputada desde 2004, em 2010 Marine Le Pen é eleita presidente da Frente Nacional. Em 2012 ficou em terceiro lugar na primeira volta das presidenciais, mas o seu maior sucesso foi nas europeias de 2014, que venceu com quase 25% dos votos.
Mesmo perto de entrar no Eliseu, não escapou às críticas do pai. Jean-Marie não gostou do debate televisivo violento e pouco esclarecedor entre a filha e Macron. “Isso deve ter beneficiado Emmanuel Macron, mas não funcionou para a vantagem de Marine Le Pen, a quem talvez faltasse gravitas”, disse o fundador da Frente Nacional à RTL, reiterando, no entanto, o apoio na filha.
Mas Jean-Marie já tem uma favorita para um futuro próximo: Marion Maréchal-Le Pen, sua neta e sobrinha de Marine, que se tem convertido numa das estrelas emergentes do partido.