O primeiro-ministro pediu explicações ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), à GNR e à Proteção Civil sobre o incêndio trágico de Pedrógão Grande. António Costa queria saber se “houve no local circunstâncias meteorológicas e dinâmicas geofísicas invulgares” que justifiquem tamanha catástrofe, nomeadamente no número de vítimas, “sem paralelo nas ocorrências de incêndios florestais frequentes em Portugal”.
Enquanto a Proteção Civil admitiu falhas de comunicações no SIRESP (Sistema de Redes de Emergência e Segurança), a resposta do IPMA também já chegou. O presidente do Instituto, Jorge Miguel Miranda, explicou o que aconteceu na tarde e noite de sábado, 17 de junho, numa carta dirigida ao primeiro-ministro e que já foi publicada no portal do Governo na Internet, tendo sido também enviada aos diferentes grupos parlamentares.
Tudo começou com um “downburst”. “Este fenómeno é por vezes confundido com um tornado, e tem um grande impacto em caso de incêndio florestal por espalhar fragmentos em direções muito diversas”, salientou Jorge Miguel Miranda.
“Foram o resultado da conjugação da dinâmica do próprio incêndio e dos efeitos da instabilidade atmosférica, gerando downburst, ou seja, vento de grande intensidade que se move verticalmente em direção ao solo, que após atingir o solo sopra de forma radial em todas as direções” que determinaram situações no terreno de excecional gravidade.
“O desencadeamento e/ou a propagação do incêndio poderá ter sido amplificado pela conjugação dos fatores descritos, e a importância excecionalmente elevada de efeitos locais relacionados com fenómenos de convecção atmosférica associados à humidade muito reduzida, e a dinâmica induzida pelo próprio incêndio”.
“Esta situação tão complexa e excecional está a ser objeto de um estudo aprofundado”, é referido na missiva de Jorge Miguel Miranda, numa alusão a uma comissão entretanto nomeada para apurar em profundidade o que se passou na região de Pedrógão Grande na tarde de sábado.
“Os valores previstos com quatro dias de antecedência se vieram a confirmar pelos valores medidos, com desvios reduzidos em termos de temperaturas máxima e mínima, humidade relativa e velocidade média do vento”.
Segundo os dados do IPMA, no caso da humidade relativa “existe uma variação um pouco mais significativa, se bem que os valores previstos no dia anterior, correspondendo à informação mais relevante, foram ligeiramente inferiores ao observado (14% em vez de 17%). Estas diferenças têm pouco significado físico”.
“No que diz respeito à velocidade do vento, existe uma variação mais significativa ao longo dos quatro dias anteriores, mas a previsão realizada com 24 horas de antecedência reproduz bem as observações (21 km/h em vez de 18 km/h). Neste sentido, o sistema de previsão meteorológico para as condições de superfície, funcionou de forma correta, dentro de margens de erro expectáveis, definindo o quadro sinóptico de tempo muito quente, com temperaturas máximas muito elevadas, próximas de 40ºC, temperaturas mínimas igualmente elevadas, humidade relativa muito baixa, vento fraco ou moderado nos locais elevados, e condições de instabilidade, com possibilidade de ocorrência de aguaceiros de trovoadas durante a tarde”.
Na carta de resposta enviada a António Costa, este instituto adianta, igualmente, que do mesmo modo se “confirma que os níveis de avisos emitidos estavam de acordo com as regras fixadas entre o IPMA e a ANPC (Autoridade Nacional de Proteção Civil)”.