Mais uma vez o flagelo dos incêndios está a assolar Portugal. O problema é antigo, mas está longe de ser travado. Também por isso, erguem-se cada vez mais vozes com as mais rebuscadas teorias da conspiração. A frustração pelo número de vítimas do fogo de Pedrógrão Grande motiva isso, mas também trouxe ao de cima uma das maiores virtudes do povo português: o espírito de solidariedade.
Já lá vamos. Porque apesar da tragédia há quem concentre as suas energias na procura de culpados. O Governo, passe a expressão, ficou debaixo de fogo. Este e o anterior. E Paulo Portas também, ele que optou pela compra de submarinos em vez de meios aéreos de combate aos incêndios. Já para não falar de Judite de Sousa, que teve a ‘ousadia’ de fazer uma reportagem ao lado de um cadáver consumido pelas chamas.
É um facto, os assuntos paralelos ganham enorme projeção em tempos de crise, todos querem ver mais à frente e usam o sentido crítico para lançar mais lenha para a fogueira, como fez, por exemplo, Maria Vieira. No entanto, há quem passe imediatamente das palavras às ações. Referimos-nos aos grandes heróis portugueses, os bombeiros. E é sobretudo deles que se vai falar neste espaço.
Ao colocarem a própria vida em risco para salvarem as dos outros estão a assumir uma nobre missão. Fazem-no por consciência, em alguns casos por impulso, mas nem sempre são devidamente reconhecidos por isso. Quase nunca, aliás. As remunerações (1,87 euros/hora na maioria dos casos!) por tanta entrega estão longe de ser as mais justas, os apoios governamentais são ainda piores, a exposição mediática é quase nula.
Chamam-lhes os soldados da paz e o que fazem, lamentavelmente, não se aprende na escola. Ainda assim, todos devíamos ter um bombeiro dentro de nós e ser 1 de 11 milhões não só no futebol. O Gonçalo Conceição bem que o merecia.
A verdade é que, para muitos, este nome não diz nada. Mário não ganhou um troféu europeu ou mundial, não foi agraciado por ninguém, não entrou na novela da moda, nem cantou para multidões. Foi ‘apenas’ o primeiro, e até ver único, bombeiro a falecer devido ao fogo em Pedrógão Grande. Tinha 40 anos, deixou mulher e um filho e, mesmo que venha a ser homenageado, será a título póstumo. Uma tremenda injustiça para quem abdicou de tanto para dar apoio a quem mais precisava e nem sequer conhecia.
Ora, das caras conhecidas dos portugueses não faltou quem também ajudasse, mas sem sair da sua respetiva zona de conforto. A atriz Rita Pereira, por exemplo, está de férias no estrangeiro e fez um donativo para as vítimas daquele incêndio. O treinador André Villas-Boas foi mais rápido do que a atriz e direcionou prontamente 100 mil euros a partir da China, onde está a trabalhar.
Muitos outros fizeram questão de mostrar, igualmente nas redes sociais, que deram o seu contributo, muitos deles através da linha solidária criada para o efeito. Cada chamada rendia 50 cêntimos, mas custava 0,74 euros. Pagar 14 cêntimos de IVA e 10 cêntimos à operadora indignou muitos, o que até se compreende, pois ninguém deveria lucrar com uma situação como esta.
Seguindo em frente, nota ainda para caras menos conhecidas, mas sempre muito criticadas por exporem as suas vidas nos reality shows, sobretudo nos da TVI. Pois bem, fique a saber que alguns saíram das suas zonas de conforto fizeram-se à estrada. Telmo Ferreira do primeiro Big Brother integrou mesmo a corporação dos Bombeiros da Batalha e foi para a frente de fogo lutar contra as chamas. Já Marco Costa está a reunir, entre os seus seguidores, bens de primeira necessidade para ele próprio ir entregar a Pedrogão Grande, nesta quarta-feira (21). Quem já se pôs a caminho de lá, numa carrinha cheia desses materiais, foi Nuno Jesus com a sua namorada, Mafalda Janeca.
São exemplos de grande humanidade e espírito de sacrifício que ficam registados para memória futura. Porque o presente é de luta contra as chamas. O flagelo de Pedrógão Grande é um dos mais mortais da história de Portugal e os bombeiros revelam-se verdadeiros heróis ao tentarem impedir que aumente o número de mortos.
A prova maior da solidariedade que eles colocam ao serviço da população, a maior demonstração de altruísmo já vista chega-nos através de uma fotografia que se está a tornar viral, de uma bombeira a amamentar o filho recém-nascido durante um incêndio. É uma imagem tremendamente forte e totalmente reveladora do que é ser um de 11 milhões. Até à exaustão e à última gota de suor. Missão humanitária cumprida! E que nenhum outro Soldado da Paz caia, esse é o nosso mais forte desejo.