O multitasking (capacidade de fazer múltiplas tarefas) tem sido indicado como uma habilidade desejável para os trabalhadores de hoje em dia.
No entanto, os estudos de neurociência mostram que o nosso cérebro não consegue colocar diversas áreas em ação simultaneamente com a mesma qualidade.
“Sempre que você acha que pode fazer várias coisas ao mesmo tempo com qualidade, está errado. Não é neurologicamente viável. Sempre que desvia o foco da atenção, a sua capacidade de reter as informações que vinham do outro lado é reduzida”, explicou André Palmini, neurologista da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica).
O neurologista explica que é como se tivéssemos uma quantidade limitada de atenção a dar e a dividíssemos entre tarefas. Quando uma das atividades é automática, como coçar a cabeça ou ouvir música, a outra tarefa pode ser desempenhada sem problemas. No entanto, quando as duas ações exigem atenção, o nível de apreensão será reduzido.
“É como se existissem dois níveis de apreensão do conhecimento. Um nível é o que te deixa entender o assunto principal, e você consegue saber sobre o que a pessoa está falando. No outro nível, o que o estudo que revisei mostra é que quando você precisar usar aquela informação para criar algo novo, essa capacidade é muito ruim”, explicou Palmini, após a apresentação no Congresso Mundial sobre Cérebro, Comportamento e Emoções, em Porto Alegre, Brasil.
O segundo caso acontece, por exemplo, quando tentamos usar o conhecimento dado durante uma aula em que conversávamos pelo Whatsapp. A memória das informações foi mal construída e temos dificuldades em explicar a alguém ou reutilizar o conhecimento dado nessa aula naquele momento.
Já uma pesquisa publicada na revista ‘PNAS’ (Proceedings of the National Academy of Sciences) em 2009, mostra que quanto mais fazemos várias coisas ao mesmo tempo, mais dificuldade temos em focar em apenas uma.
No estudo foi comparado o desempenho de dois grupos de pessoas em tarefas múltiplas. Quem tinha o hábito de tarefas simultâneas teve resultados piores nos testes de habilidade de troca de tarefas e menor competência de ignorar interferências pequenas durante as suas atividades, ou seja qualquer coisa as dispersava.
Por outro lado, um artigo de 2015, publicado na revista ‘Psychonomic Bulletin Review’, mostra que o impacto negativo das tarefas simultâneas é verdadeiro para 97% da população. Contudo há 3% das pessoas que são tão boas em manter tarefas simultâneas como em fazer uma coisa de cada vez, são os chamados ‘supertaskers’.
Na pesquisa foram feitas imagens do cérebro para determinar o funcionamento neural de diferentes pessoas durante múltiplas tarefas e depois avaliou a sua performance em cada uma de duas atividades simultâneas.
“Os resultados sugerem que os supertaskers têm capacidade de lidar melhor com múltiplos objetivos e estrangulamentos no processamento de informações e se adaptar a cargas cognitivas elevadas”, apontam os pesquisadores no artigo.
“O que perceberam é que essas pessoas são muito eficientes na ativação de áreas da memória que têm que manter as informações de trabalho ‘pausadas'”, adiantou Palmini.
Como hipótese para novas investigações, os pesquisadores da Universidade de Utah sugerem que a resposta pode estar no córtex pré-frontal dessas pessoas.
Por isso fica a dica. Se as tarefas são muitas e é preciso multiplicar o tempo, tente organizar-se ou, no máximo, alternar tarefas.
Palmini diz que o hábito de organizar numa lista as tarefas a serem feitas e determinar um prazo para que elas sejam realizadas já reduz o stress de ter coisas incompletas.