Aos 37 anos, a atleta do Clube de Natação de Rio Maior sagrou-se, no domingo passado, 13 de agosto, campeã mundial nos 50 km marcha femininos. Inês Henriques registou o recorde mundial na primeira vez que o evento foi aberto às mulheres, em mais uma vitória de quem nunca desistiu dos seus sonhos.
Na hora de cortar a meta, as lágrimas de alegria misturaram-se com as de dor após cumprir a dura prova, mas a nova heroína não se perdeu em individualismos, lembrando sobretudo a mãe que “sempre fez um trabalho de homem”.
Os pais de Inês vendem carvão e lenha, um ofício que implica muito trabalho físico que a progenitora concretiza diariamente. E isso, para ela, “é muito mais duro” do que o desporto que pratica.
Humildade é a característica que se destaca quando se ouve a nova campeã que, até à medalha de ouro, cumpriu um percurso de dedicação com muitos altos e baixos como qualquer atleta que tem grandes objetivos, mas os recursos nem sempre são da mesma dimensão.
Inês Henriques entrou para o Atletismo em 1992, um ano depois de ver a conterrânea Susana Feitor competir em Tóquio. Tinha 12 anos e a colega “já tinha sido campeã do mundo (de júnior nos cinco quilómetros marcha em Plovdiv-1990) e o Jorge Miguel (o treinador) já estava a criar o grupo de marcha”.
Nessa altura, ninguém tinha telemóvel e a atleta ainda chegou a sentir-se dividida entre a marcha e o basquetebol, mas a baixa estatura – tem 1,58 m – e talvez a sina desviaram-na para a modalidade em que agora se notabiliza e que é quase uma tradição em Rio Maior de onde é natural.
A estreia em Mundiais aconteceu em 2001, em Edmonton e ao lado de Susana Feitor, a sua referência. Foi desclassificada nos 20 quilómetros, seguindo-se os Jogos Olímpicos de Atenas onde ficou em 25.°. No ano seguinte, Feitor conquistou o bronze no Mundial de Helsínquia, ainda nos 20 quilometros, e ela ficou em 27.°,
Acumulada experiência, os resultados começaram a evoluir: foi sétima em Osaka-2007, décima em Berlim-2009, nona em Daegu-2011, 11.ª em Moscovo-2013 e 25.ª em Pequim-2015.
Já em Londres tinha alcançado o 14.° lugar nos Jogos Olímpicos, em 2012, mas sempre na maior distância que era permitida às mulheres participar. E, esta semana, fruto de 25 anos de trabalho, provou à Associação Internacional de Atletismo que o elenco feminino tem pernas para andar e provar que os 50 quilómetros marcha não são só para meninos.
Sempre sem esquecer as origens, aterrou em Lisboa na segunda-feira. À sua espera, tinha os pais, a irmã e os sobrinhos a quem é muito apegada, e muita gente que a quis felicitar pelo feito histórico e exemplo para as novas gerações.