O consumo alcoólico excessivo e prolongado durante a adolescência e juventude afeta o desenvolvimento cerebral, causando alterações visíveis em electroencefalograma, e traduz-se, de forma diferente, nos cérebros de homens e mulheres, com mais alterações funcionais nos primeiros.
Estas foram as conclusões de um estudo realizado por cientistas finlandeses e apresentado no congresso anual do colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia, em Paris. Além do consumo continuado de álcool causar alterações visíveis em electroencefalograma, essas alterações divergem em homens e mulheres.
“Há mais alterações na atividade elétrica do cérebro nos homens do que nas mulheres, devido ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas”, começa por explicar Outi Kaarre, a investigadora do Hospital da universidade de Kuopio e uma das autoras do estudo.
Os resultados mostram que existem alteração elétricas e químicas no cérebro, com especial relevância para o neurotransmissor GABA e os seus recetores neuronais de dois tipos diferentes: A e B.
Nas mulheres, o consumo excessivo de álcool afeta apenas os recetores de tipo A, nas mulheres, enquanto que os homens, vêem os dois tipos de recetores serem afetados. No entanto, segundo os investigadores, ainda não é possível determinar com clareza como é que esta nova conclusão pode ser interpretada o o que implica.
De acordo com Outi Kaarre, “o GABA é um neurotransmissor fundamental, que está envolvido na inibição de muitos dos sistemas e funções cerebrais e que tem um papel importante, por exemplo, nas perturbações de ansiedade e de depressão. Este neurotransmissor tem um efeito de diminuir, ou acalmar a atividade cerebral”.
No estudo foram analisadas 27 pessoas, das quais 11 eram homens e 16 mulheres, com idades compreendidas entre os 23 e os 28 anos e um historial de 10 ou mais anos de consumo excessivo de álcool.
Todos tinham alterações nos electroencefalograma, depois de aplicada estimulação magnética transcaniana, que estimula a atividade neuronal. Sujeitos da mesma idade e sem esse historial não apresentaram essas alterações.
Estudos feitos em animais mostraram entretanto que o recetor GABA-A está associado a padrões de menor consumo de álcool, enquanto o GABA-B está mais presente no processo cerebral ligado ao desejo de beber.
Por isso, a equipa finlandesa acredita que os resultados “podem ser a porta para um possível mecanismo que explique as diferenças entre homens e mulheres” em relação ao consumo de álcool.