Primeiro houve uma polémica sobre a vitamina D que nos estava a ser ‘impingida’ sem nós percebermos porquê. Mas agora são os especialistas a frisar que, de facto, temos um nível de carência dessa vitamina, que pode ser produzida através do sol, superior às pessoas dos países nórdicos.
“Não basta estar sol lá fora. É preciso expor a nossa pele ao sol e os portugueses são pouco dados a isso, pois quando está bastante calor tendem a fugir do sol”, disse Pereira da Silva.
O especialista em reumatologia da Universidade de Coimbra (UC), que integrou a comissão organizadora da terceira edição do “Fórum D”, que decorreu em Coimbra, salientou que os “nórdicos quando está sol e calor apanham-no, porque sabem que não têm muitas oportunidades”.
Já os portugueses, acrescentou, se apanhassem sol com alguma regularidade, dado que o clima proporciona vários meses de exposição solar, “deviam, de facto, ter menos falta de Vitamina D do que esses países”.
“O que se passa é que tradicionalmente em Portugal não apanhamos sol nas horas de maior calor, que são aquelas em que o sol é mais capaz de produzir a vitamina D, que é entre as 11h00 e as 16h00, entre abril e outubro, e nas quais evitamos fazê-lo”, sublinhou.
Uma situação que contrasta com o apelo das autoridades de saúde para que as pessoas evitem a exposição solar naquelas horas, mas que o professor Pereira da Silva considera que a mensagem deveria ser no sentido das pessoas terem cuidado “com a exposição excessiva ao sol”.
“A dose necessária [de sol] para produzir a vitamina é muitíssimo inferior à dose necessária para causar uma queimadura ou para aumentar o risco de cancro da pele”, frisou o médico.
Segundo o especialista, a falta de vitamina D é diretamente responsável por doenças como a osteoporose, “que já é um problema de saúde pública”, e a osteomalacia, consequência direta de falta de vitamina D, o equivalente no adulto ao raquitismo.
“Um estudo indica que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) atende cada ano mais de 10 mil pessoas com uma fratura da anca, o que significa, a preços muito económicos, qualquer coisa como 260 milhões de euros de custos só para tratar estas fraturas, e esse número vai aumentar muito, porque está muito relacionado com a idade”, prevê Pereira da Silva.
A osteoporose tem uma “relação muito direta com a falta de vitamina D, pois quem não tiver boa vitamina D não consegue absorver cálcio da alimentação e não havendo cálcio a entrar no sangue o organismo vai buscá-lo aos ossos, enfraquecendo-os”.
O especialista em reumatologia disse ainda há uma quantidade enorme de estudos por todo o mundo que relacionam níveis baixos de vitamina D com uma variedade muito grande de doenças, entre elas a diabetes, enfarte do miocárdio, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, certas formas de cancro e de infeção.
Relativamente à relação entre as doenças oncológicas e certos tipos de infeção, o médico considera que a prova “não é absolutamente sólida, pelo que não se sabe se a falta de vitamina D é a causa ou apenas o acompanhante destas patologias”. Contudo, acrescenta, há uma relação muito forte com a longevidade.
“As pessoas que têm níveis mais baixos de vitamina D morrem mais cedo e respondem pior aos tratamentos oncológicos”, adiantou o professor da UC, acrescentando que a suplementação é “muito barata e segura” e que muitos países europeus já o fazem na população mais idosa.
O “Fórum D”, que é o único evento totalmente dedicado a esta temática em Portugal, juntou duas centenas de médicos para “os ajudar a definir estratégias de atuação relativas à vitamina D nas mais variadas doenças”.
A Vitamina D, também designada por Colecalciferol (derivado do colesterol),
é na verdade uma pré-hormona (inativa), embora seja designada de vitamina por razões nutricionais e de saúde pública.
É uma vitamina lipossolúvel, o que significa que é absorvida juntamente com os lípidos e, para que isto aconteça, é necessária a presença da bílis e do suco pancreático. Enquanto vitamina lipossolúvel é transportada do sistema linfático para o fígado através das lipoproteínas
e, posteriormente, armazenada nos tecidos.
As vitaminas são substâncias reguladoras do metabolismo e das quais necessitamos em pequenas quantidades. No entanto, ao contrário das outras vitaminas, que podemos encontrar
nos alimentos, a Vitamina D é, sobretudo, produzida pelo organismo.
Nos humanos, a Vitamina D é importante no desenvolvimento, crescimento e manutenção do equilíbrio de uma multiplicidade de órgãos e funções do corpo humano, desde a gestação até ao fim da vida.
A principal fonte de Vitamina D é o Sol. A síntese da Vitamina D ocorre na pele após exposição solar. Em condições ideais, esta fonte forneceria entre 80 a 90% das necessidades de Vitamina D, no entanto a síntese é afetada por diversos fatores, como por exemplo, a latitude, a estação do ano, a pigmentação da pele, entre outros.
A Vitamina D também está presente, ainda que em quantidades mínimas, em alguns alimentos de origem animal como peixes gordos, óleos de fígado de peixe e gema de ovo. Contudo, a ingestão mesmo que diária destes alimentos não é suficiente para obter as quantidades suficientes de Vitamina D.
Nos dias de hoje, a grande maioria das pessoas trabalha em locais fechados, o que reduz imenso
a exposição solar e, logo, a síntese de Vitamina D. Por outro lado, a preocupação com o risco de
cancro da pele faz com que a maioria das pessoas não arrisque expor-se ao sol sem proteção solar: um protetor com índice superior a 8 condicionará a produção de Vitamina D.