Numa altura em que se passa precisamente um ano desde a queda do avião que transportava o clube de futebol de Santa Catarina, Brasil, e em que a Procuradoria descartou qualquer responsabilidade da Chapecoense no acidente, a dor ainda está bem presente.
“”Nas alegrias e nas horas mais difíceis…” ⚽️?? #PraSempreChape “En la alegria y en las horas más difíciles.” “In joys and in hardest moments.””, escreveu o clube no Instagram esta quarta-feira, 29 de novembro, colocando uma imagem do emblema com muitas estrelas a verde simbolizando as vítimas mortais.
A frase ali em espanhol tem uma razão de ser. Afinal foi na Colômbia que o avião com o voo 2933 da companhia aérea boliviana LaMia, se despenhou nas montanhas a 30 quilómetros do seu destino final, o aeroporto de Medellín.
Os jogadores, a equipa técnica e dirigente e os jornalistas seguiam viagem para aquele país para disputar a final da Taça Sul-americana. O avião ficou sem combustível e caiu, matando 71 das 77 pessoas a bordo e destroçando outras tantas.
É o caso dos sobreviventes. Ximena Suarez Otterburg, a única assistente de bordo desse fatal 29 de novembro de 2016 que está viva, já tinha provocado a polémica ao pedir ajuda monetária enquanto recuperava dos ferimentos. Agora, em entrevista ao ‘El País’, diz que continua a ter pesadelos com esse dia.
“Ninguém sabe como vai agir em caso de emergência, ninguém está preparado, como tripulantes de cabine somos treinados, temos simulações, mas quando chega a altura é difícil”, contou, lembrando que estava a ser um “voo normal, tranquilo”.
“Algumas noites tenho pesadelos, não consigo dormir. Tentei deixar de tomar comprimidos para dormir, mas não posso porque acordo durante a noite”.
Ximena disse ainda que está a ser acompanhada por um psicólogo e um psiquiatra, pois quer voltar a voar.
Alan Ruschel também sobreviveu ao desastre. O jogador falou ao ‘O Jogo’ e diz que tem “sempre trabalhado com o maior empenho de sempre desde o primeiro dia de recuperação para fazer tudo da melhor forma possível”.
Surpreendido pela reconstrução do clube após a tragédia – que rapidamente se uniu para voltar a jogar, apesar de ter perdido a maioria dos seus elementos -, Alan frisa que atingiram os objetivos e êxitos como coletivo.
“Nunca questiono as decisões de Deus e nunca discuto os motivos que levaram tudo isso a acontecer. O que faço é transformar o “porquê” em “para quê”. Deus não me deixou aqui para ficar jogado num canto e viver depressivo por perder companheiros, amigos e pessoas queridas. Deixou-me aqui para encarar a vida de frente e ser um exemplo para todos”, afirmou o atleta.
Mas se há dor que não acaba é a das viúvas. “A sensação que tive foi que estavam a devolver o meu marido aos pedaços”, disse Fabienne Belle à AFP em São Paulo, lamentando a falta de apoio após o acidente.
Fabienne recebeu por correio a mala do marido, Celzinho, fisiologista da Chapecoense. “O clube reconstruiu-se, recebeu todo o apoio, fez um marketing em cima daquela tragédia, refez a sua história, ao passo que as famílias ficaram de lado nessa reconstrução”, lamentou.
A antiga professora, de 47 anos, fundou com Mara Paiva, viúva do ex-jogador de futebol e comentador desportivo Mario Sergio, a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo do Chapecoense (AFAVC). Desde junho reúnem os interesses de 62 afetados na luta pelos seus direitos.
Por enquanto Paiva só recebu o seguro de vida e, assim como as restantes famílias, rejeitou a proposta da seguradora da LaMia, que ofereceu 200 mil dólares por vítima em troca de não receber mais reivindicações no futuro.
As investigações na Colômbia e na Bolívia ainda estão por concluir. O processo legal é complexo já que implica os três países. A Procuradoria brasileira já ‘ilibou’ o clube de qualquer responsabilidade ou negligência.