Daniella Perez, foi assassinada à facada com apenas 22 anos no dia 28 de dezembro de 1992. O Brasil e Portugal, onde passava também a novela ‘De Corpo e Alma’, ficavam em choque com o crime hediondo que tirou a vida da atriz, filha de Glória Perez.
A jovem foi assassinada pelo ator Guilherme de Pádua, com a ajuda da sua mulher da altura, Paula Thomaz. Como aquele não a conseguiu estrangular, numa discussão no carro dele, já que Daniella fugiu, acabou por apanhá-la e, com Paula, desferiu-lhe 18 golpes de tesoura.
Daniela e Pádua contracenavam naquela novela, de autoria de Glória Perez, onde interpretavam respetivamente Yasmin e Bira.
Guilherme até foi ao velório para prestar condolências e chegou a consolar a autora. Acabou condenado, em janeiro de 1997, a 19 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima). Paula Thomaz recebeu pena semelhante em maio: 18 anos e meio.
Mas se Glória Perez não se tivesse mobilizado, assim como outras mães que perderam as filhas às mãos de criminosos, nada disso teria acontecido. Isso mesmo frisou a própria esta quinta-feira no Facebook.
“25 anos é menos que 25 dias, que 25 horas, que 25 segundos. Filho não se conjuga no passado!”, começou por escrever, passando depois a contar a história de como conseguiu mudar a lei no Brasil, através de uma emenda popular.
“Em 1992, as leis penais eram ainda mais frouxas. Matar não dava cadeia: assassinos tinham direito de esperar, em liberdade, por um julgamento que podia ser adiado indefinidamente”, explicou, frisando que o homicídio não estava integrado na “Lei dos crimes hediondos”.
“Para estes, tidos como os mais graves, a prisão era imediata e não se admitia pagamento de fiança. Matar botos, papagaios, animais que faziam parte do patrimônio, era crime hediondo -matar gente, não. Assassinato não entrou na lista”.
Por isso Glória procurou “o dr. Biscaia, na época chefe do Ministério Público” para saber o que fazer. Aquele “considerou que, ao invés de uma nova lei, o que se devia propor era incluir o homicídio qualificado (aquele em que existe a intenção de matar), no rol da Lei dos crimes hediondos.”
A autora e as outras mães então redigiram a emenda, imprimiram um abaixo-assinado e distribuíram-no de mão em mão (note-se que não havia internet).
“Gente de todo o país escrevia, pedindo as listas, que eram passadas em repartições, escolas, shows, nas ruas mesmo. E chegavam a nós pelo correio. Nessas condições, inimagináveis para a geração de hoje, conseguimos, em apenas três meses, reunir 1.300.000 assinaturas -a lei só pedia 1.000.000. E as levamos ao Congresso”.
Ali, na última sessão do ano, “tão logo foi anunciada a votação da emenda, assistimos o plenário esvaziar-se, no claro intuito de impedir a votação, por falta de quorum”.
“Senadores saíam de fininho, passavam sem nos encarar, ignorando nossos apelos para que ficassem. Não houve quorum. Mas houve um senador de coragem: Humberto Lucena, então presidente do Senado, enquadrou a emenda como urgência urgentíssima. Assim, o homicídio qualificado foi incluído na Lei dos crimes hediondos.”
“Assim nasceu a primeira emenda popular da História do Brasil. Na prática, o que ela fez foi igualar a vida humana à vida dos botos e dos papagaios. Mas já é alguma coisa!”, concluiu.
A publicação mereceu a reação de muitos que recordaram essa mudança de lei. O ator Victor Fasano, colega de Daniella em ‘De Corpo e Alma’, também comentou: “Foi uma cicatriz em nossas vidas! Nunca será igual a antes! Bjo querida mãe.”
Voltando a Guilherme de Pádua. Dois anos após ter sido condenado, teve liberdade condicional e, em maio de 2000, a redução de 25% da pena.
Atualmente tem 48 anos, tornou-se pastor da igreja evangélica em Belo Horizonte, cidade onde reside, e – mais perturbante – é um homem casado.
Quanto à sua cúmplice, Paula Thomaz, sabe-se que trocou de nome, casou-se novamente e nunca mais foi vista.
Horas antes do crime, num capítulo gravado da novela, Yasmin termina o namoro com Bira. Após a gravação da cena, o ator teve uma crise de choro nos corredores da TV Globo.
O corpo da atriz e bailarina foi encontrado numa região de floresta na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Fotos: Redes Sociais