Aos 74 anos, feitos no último dia de 2017, o ator quase nem precisa de apresentações, apesar de a vida nem sempre lhe ter corrido de feição. É o custo da vida de artista que Carlos Areia confirmou em 1981, embora tenha começado bem antes a representar e a prova é que já celebrou 50 anos de carreira, na estrada, com o espetáculo “Quero ir pra ilha”.
Foi no início da década de 80 que se estreou como ator profissional na Revista “Chá e Porrada” no extinto Teatro ABC, no Parque Mayer, onde trabalhou quase uma década, passando a ser conhecido por todos.
Em paralelo, iniciou ainda o percurso na televisão. Foi com “A Tragédia da Rua das Flores” na RTP1, a série baseada na obra de Eça de Queiroz, tendo participado, no ano seguinte, como figurante em dois episódios da novela “Vila Faia”.
Os anos passaram e o currículo somou outros papéis, sendo muito conotado pelos papéis cómicos que foi interpretando, embora também se encaixe em desafios dramáticos que a ficção já lhe proporcionou.
O remake de “Jardins Proibidos” na TVI, em 2014/15, foi o último trabalho em televisão, passando a viver, desde essa altura, com 342 euros do Complemento Solidário para Idosos, e cachê que vai reunindo com a bilheteira dos espetáculos que produz.
Desesperado pela falta de trabalho, assumiu em entrevista, no “Alta Definição” da SIC, em finais de novembro, dificuldades e até a vontade de “desistir da vida”, chamando a atenção de quem o rodeia.
A solidariedade não se fez esperar por quem lhe reconhece talento. E foi assim que Carlos Areia ganhou um novo sorriso, ou seja, uma dentição renovada que o faz mais novo e pronto para novos reptos, como já confessou.
A seu lado, a namorada, a também atriz Rosa Bela, é o apoio de todas as horas, apesar dos 48 anos que os separam. Por amor, o casal superou a polémica que envolveu o início do romance, até porque ela era menor.
Sem papas na língua, a jovem deu sempre o corpo às balas e é sem medo que responde nas redes sociais a todos os que criticam Carlos Areia ou até o relacionamento, garantindo que ela é que não o deixa.
O artista é pai de Cristina e Dulce, de duas anteriores relações, a quem nem sempre deu a devida atenção. “Fui um pai ausente”, admite quem cresceu sem referências paternas, pois a mãe morreu era ele pequeno e o pai foi preso logo a seguir.
Aos 12 anos, no arranque da adolescência, fugiu de casa e foi obrigado a crescer. Experiências que recorda na fase sénior em que a estabilidade ainda não o brindou, embora tenha provado nas últimas semanas que a sociedade o reconhece, voltando a ser presença assídua, embora pontual, no pequeno ecrã.
Esta quarta-feira à noite, Carlos Areia é convidado de Herman José no “Cá por Casa” na RTP1, juntando-se a Sérgio e Nelson Rosado e Sílvia Alberto numa conversa sem filtros e bem-humorada, numa prova de que “tristezas não pagam dívidas” e há sempre uma janela para a oportunidade.