Em meio século de existência, o ator é há muito um nome incontornável da cultura portuguesa. Nascido em Loulé, Algarve, fruto de uma relação fortuita da mãe, Maria, com um inglês, Jonathan, começou por ser guia-intérprete, mas o talento nato depressa o afirmou na representação.
Diogo Infante só conheceu o progenitor aos 34 anos, cinco anos antes de anunciar a estreia também na paternidade. Filipe foi adotado e tem agora 14 anos, vivendo longe dos olhares públicos sob a educação do artista e de Rui Calapez, com quem o ator se casou em 2013.
Homem de desafios, Diogo assumiu, em dezembro passado, as funções de programador e diretor artístico do Teatro da Trindade, em Lisboa, onde em breve voltará também a subir ao palco com a peça “O Deus da Carnificina” que encena.
Várias obrigações que implicam alguma correria. Aliás, “dentro de duas horas tenho que estar almoçado e nos ensaios”, comentou entre gravações de cenas da novela da TVI “Jogo Duplo” a que a Move Notícias assistiu na Comporta.
“É uma gestão delicada porque acresce a direção do próprio teatro, mas tenho feito com muita boa vontade por parte de todas as partes envolvidas”, acrescentou, sem mostras de stress ou qualquer pressão.
O teatro é uma paixão inegável e “a peça é muito divertida”. “Está a ser um prazer trabalhar com a (Rita) Salema, com a (Patrícia) Tavares e com o Jorge Mourato e fartamo-nos de rir. Portanto, ao mesmo tempo, é uma descompressão. O espetáculo vai estrear dia 1 de março e já estamos com uns nervos como é normal, mas muito entusiasmados”, revelou o protagonista.
Em televisão, a conversa é outra e Diogo Infante tem uma enorme carga emocional imposta pelo Manuel Wang, a quem dá vida na ficção, como descreveu com um contagiante rigor: “Este homem é muito ambicioso e eu acho que ele não vai parar enquanto não cumprir o seu plano. O plano é megalómano porque eu acho que ele tem aqui uma necessidade de afirmação muito grande, provavelmente é proporcional ao seu ego e também será proporcional ao seu desconforto. Acho que o Manuel é um homem mal-amado, desde pequenino, e acho que é isso que torna esta pessoa tão determinada, fria e calculista”.
À semelhança com a realidade, mas com diferenças abismais no que respeita a valores intrínsecos ao intérprete, a personagem também “foi um homem que não teve pai”. “Acho que isso o determinou. É evidente que isso não legítima todas as maldades que faz, mas ele é um sociopata de alguma maneira, porque deixou de ter valores morais. Ele também não é uma pessoa normal, nem nas relações, nem nos afetos, nem na maneira como encara a vida”, reconheceu Infante.
Depois de “A Impostora”, o projeto presente proporcionou o reencontro com Fernanda Serrano, a Maria João da história, com quem viverá uma relação de conveniência, ou seja, um “registo completamente diferente” do anterior. E, “é muito divertido, nós somos naturalmente muito cúmplices, temos muita confiança um com o outro e esperamos que isso agora se reflita no jogo das personagens”, acrescentou.
Em prol do papel, teve que aprender cantonês e não foi “nada fácil”. “Aliás, eu e o João (Catarré) suamos as estopinhas porque é muito complicado para dizê-las bem. E pronto, a certa altura tivemos que abandonar porque era um trabalho ingrato e era praticamente impossível”.
No meio de tudo, “durmo e como”, respondeu quando questionado sobre a gestão do tempo. “É uma questão de planificar no fundo o trabalho e ser honesto, perceber que enquanto estou aqui, estou aqui, depois tenho que mudar o ‘chip’. Mas eu sou gémeos, com ascendente gémeos. Portanto esta coisa de ser multifacetado e de andar de um lado para o outro agrada-me. Eu não gosto nada de estar sempre no mesmo sítio, dá-me um bocadinho de seca”, atirou, dando guia de marcha para as gravações.
Fotos: César Lomba