Os seres humanos podem ter uma capacidade inerente de detetar pessoas doentes através pistas visuais extremamente subtis. Segundo um novo estudo, esta habilidade poderia atuar como uma defesa comportamental contra doenças, limitando o risco de contaminação.
De acordo com um estudo, publicado esta semana na ‘Proceedings of the Royal Society B’, algumas pessoas têm a capacidade de detetar pessoas doentes a partir de dicas visuais extremamente subtis. Esta competência poderia servir de escudo contra doenças, limitando o contacto físico ou o risco de contaminação.
“A capacidade de detetar pessoas doentes pode permitir que as outras pessoas evitem ficar perto do doente, minimizando o risco de adoecer se a pessoa for portadora de doenças contagiosas”, explica John Axelsson, neurologista da Universidade de Estocolmo, na Suécia, e principal autor do estudo.
As pessoas captam sinais quase invisíveis de que o corpo do doente está a lutar para recuperar da patologia. Entre estes sinais podemos destacar a palidez, o inchaço facial, os cantos dos olhos avermelhados, o suor e o canto da boca caído.
De acordo com Axelsson, esta capacidade é inerente ao ser humano, e é sensível o suficiente para detetar pistas simples em fotografias de pessoas doentes, embora o estudo tenha provado que nem sempre isso acontece.
Segundo o Science Alert, estudos anteriores comprovam que demonstrações exageradas dos sintomas do problema de saúde causam uma certa ansiedade a quem observa, mas, até agora, nenhum outro estudo provou que efeitos têm os sinais subtis de um paciente.
O estudo da Universidade de Estocolmo testou a reação, recrutando 16 pessoas saudáveis, com idades compreendidas entre os 19 e os 34 anos, e dividindo-as em dois grupos distintos.
O primeiro grupo recebeu uma injeção da bactéria Escherichia coli, que causa uma rápida resposta inflamatória, provocando sintomas de mal-estar. Já o segundo recebeu placebo.
Antes e duas horas depois do teste, os 16 indivíduos foram fotografados. O objetivo era tirar duas fotografias aos participantes: a primeira, aparentemente saudáveis, e a segunda na qual pareciam doentes.
Um outro grupo, composto por 62 pessoas, analisou as fotografias (no seu total, 32) e classificou as pessoas como doentes ou saudáveis.
Entre as 2.945 classificações das 32 pessoas, 41% das imagens foram identificadas como pessoas com mal-estar (longe dos 50% que deveriam ter sido registados), mas entre as 1.215 classificações de pessoas doentes, apenas 775 estavam corretas . As restantes 440 classificações estavam incorretas.
“Os humanos são apenas semi-precisos“, disse Mark Schaller, psicólogo da Universidade da Colúmbia Britânica, que não participou no mais recente estudo.
Em suma, 13 das 16 pessoas doentes foram identificadas (81%). Mas, apesar de ser um bom resultado, algumas das características faciais podem simplesmente coincidir com as de uma pessoa triste ou cansada, por isso, os autores concluiram que as dicas visuais não são suficientes para afirmar que alguém está doente.
“Esta constatação suporta a ideia de que os humanos têm a habilidade de detetar sinais de doença na fase inicial, depois da exposição ao agente infecioso”, concluem os autores no artigo.