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Incesto e beijar filhos na boca provocam debate em torno de ‘Big Brother Brasil’

Ayrton Lima, de 56 anos, e Ana Clara, com 20, protagonizaram logo no início da 18ª edição do reality show imagens de muita intimidade. Seria algo normal de um ‘Big Brother’ caso não estivessemos a falar de pai e filha.

Os dois elementos, que entraram na casa com Eva (mulher de Ayrton e mãe de Ana Clara) e Jorge (primo de Ana Clara e sobrinho de Ayrton), acabaram por se safar da primeira expulsão no programa. Eva e Jorge saíram, mas pai e filha ficaram e são agora considerados um único concorrente.

A questão que se coloca agora é: será que vamos ver mais imagens dessas? Até porque a polémica foi tanta que a TV Globo optou por reunir a família Lima, ainda na casa, para uma conversa e revelar-lhes como o público estava a reagir cá fora.

Todos podem ter refreado o comportamento, mas já não ‘impediram’ o debate em torno de incesto e de pais e filhos a beijarem-se na boca.

Vamos por partes.

O UOL, por exemplo, ouviu famílias com hábitos diferentes e especialistas em comportamento humano para debater os seus pontos de vista. Há quem beije os filhos na boca, há quem considere que isso é só entre um casal.

Darrell Champlin, antropólogo com especialização em psicologia, diz que o beijo é um fenómeno universal. “Não tenho notícia de uma cultura atual em que não exista beijo. É um mecanismo que se usa para demonstrar afeto e, frequentemente, esse beijo é na boca. Em algumas culturas, em especial nas ocidentais, o beijo, quando na boca, também assume uma roupagem romântica. Como exemplo, há prostitutas que dizem fazer de tudo com o cliente, menos beijar na boca.”

Americano radicado no Brasil, o antropólogo não condena os ‘bate-chapas’ (beijos rápidos na boca) entre familiares e lembra que os hábitos tendem a ser completamente diferentes ao cruzarmos fronteiras: na Rússia, os homens se cumprimentam com beijo na boca, por exemplo.

“É um cumprimento apenas respeitoso. É o mesmo para algumas famílias que beijam o filho na boca, mas, na nossa cultura, ainda é algo que pode gerar resistência. Vai ter gente que vai entender esse ato como algo extremamente sexual. Mas, para alguns, é apenas um gesto de carinho, desconectado de qualquer conotação sexual.”

Ana Clara e Ayrton a dormir na mesma cama

Ele explica que na antropologia esse conflito de reações é chamado de choque cultural. “Vai muito da interpretação pessoal. Apenas lamento que na cultura da gente haja tanto estranhamento para tudo.”

Já a psicóloga Luciana Rocha não vê com bons olhos o hábito de beijar crianças na boca. “Primeiro há a questão de transmissão de bactérias e vírus pelo beijo, e crianças muito novas são mais suscetíveis ao contágio. Além disso, o selinho [o tal ‘bate-chapas’] na nossa cultura ainda é um ato que tem um significado sexual. Em geral, quem se beija assim namora ou tem algum envolvimento de aspeto amoroso.”

É comum que filhos tentem, em determinada idade, reproduzir beijos nos pais, mesmo nas famílias não adeptas dos beijos, para imitar algum comportamento que observaram. Nesses casos, a melhor saída é a conversa com a criança, indica a psicóloga.

Incesto também?
Telespectadores e internautas não põem de lado a hipótese disto ser um caso de incesto.

À ‘Pleno News’, o teólogo Pedro Luis Barreto Litwinczuk foi claro: “É vergonhoso ver um pai com um relacionamento desses com a filha. Num relacionamento paterno existe limites que são impostos. Eu acho que eles ultrapassaram todos os limites, principalmente o do bom senso. Não tem como explicar e não dá para entender”.

Ayrton também é criticado por dirigir elogios inadequados para a filha. Em determinada ocasião, enquanto a jovem trocava de roupa, Ayrton teria dito “que isso, hein, filha? Que isso”.

Segundo o teólogo, essa pode ser uma estratégia para colocar a família sob os holofotes e garantir fama, mesmo que temporária.

“Porque o brasileiro gosta desse tipo de coisa, das pessoas que geram polémica. Mas isto é vergonhoso. O objetivo, de facto, é chocar as pessoas<". Só que o incesto não é crime no Brasil.

“Caso um adulto faça sexo com um menor de 14 anos, o crime tipificado é o de estupro, mesmo que seja consensual. Dos 14 aos 18, caso a relação envolva violência”, explicou à ‘Gazeta do Povo’ Regina Beatriz Tavares da Silva, presidente da Associação de Direito de Família e das Sucessões.

Mas não é por não ter enquadramento legal que não quer dizer que seja moralmente reprovável.

“Além da lei, há a moral e os bons costumes, que repudiam este tipo de comportamento”, frisou Beatriz.

As raízes da revolta e da repulsa pelo incesto têm origem na própria evolução humana, antes mesmo do estabelecimento da cultura.

“O incesto entre parentes próximos não é apenas moderadamente nocivo. Ele é potencialmente catastrófico. A seleção para evitar ativamente o incesto poderá ser tão forte quanto qualquer outra pressão seletiva que já foi medida na natureza”, escreveu Richard Dawkins no seu livro “O Gene Egoísta”.

As restrições ao incesto não se localizam apenas no campo biológico e evolutivo. Para o escritor e psicólogo Michel Shermer, “a evolução dotou-nos de emoções morais para evitar relações sexuais com parentes consanguíneos.”

Família Lima

Com mais ou menos tolerância ao ver as imagens do pai e filha, o que é certo é que todos podem bloquear esse assunto nas redes sociais.

Isso mesmo. O ‘buzz’ tem sido tal no Brasil que até já explicam como impedir que o tema ‘Big Brother’ apareça nos nossos feeds.

E estes são os procedimentos, segundo explica o ‘Diário de Pernambuco’: O primeiro passo é fazer uma lista de palavras relacionadas ao assunto.

Sim, tem mesmo de perdeu um pouco de tempo nisto para que o resultado seja realmente eficiente. Algumas dicas de termos que podem ser bloqueados incluem as variações do nome do programa e suas hashtags: Big Brother Brasil, Big Brother, BigBrother, BBB, BBB18, #BBB, #BBB18, #BigBrother.

Assuntos relacionados à dinâmica do reality também devem ser lembradas: paredão, eliminado, líder, prova do anjo, Big Fone, entre outros.

Nomes como o do apresentador Tiago Leifert e dos participantes também são uma boa dica para essa “lista negra”.

Anote então os nomes dos participantes desta edição e que você não vai querer ver na sua timeline: Ana Paula, Breno, Caruso, Diego, Gleici, Jaqueline, Jéssica, Lucas, Mahmoud, Mara, Nayara, Patrícia, Paula, Viegas, Wagner e Kaysar.

Imagens: TV Globo