O eterno ‘Menino Tonecas’ faz 58 anos a 23 de fevereiro. Há duas décadas entrou-nos em casa pela antena da RTP e animou as noites de muitos portugueses com calinadas, irreverência e mal-entendidos com o saudoso ‘professor’ Morais e Castro.
Com tantos momentos de boa disposição que proporcionou, ninguém diria que aquela criança no papel, mas homem já feito na vida real, tinha sofrido violência doméstica, em silêncio, durante alguns anos da sua infância. Num relato emocionado, Luís Aleluia detalhou essa experiência traumática que se estendeu à sua mãe.
“Muitas vezes ela apanhou, porque se meteu à minha frente”, relata já depois de ter identificado o padrasto como agressor. “Eu e a minha mãe fomos vítimas dessa violência por causa do vinho, do futebol…”, enumera de seguida para concluir, depois, assim: “São coisas que uma criança nem deve passar, nem deve viver, porque isso vai marcar a vida toda.”
E foram essas marcas de abusos físico e psicológico que Luís Aleluia expôs na entrevista a Daniel Oliveira que será emitida no próximo sábado, na SIC, no programa Alta Definição. Para já só saiu um trecho da conversa e, pela delicadeza do assunto, deixamos aqui, na íntegra, a forma como ela decorreu.
Daniel Oliveira (DO) – Porquê que foi decidido que iria para a Casa do Gaiato?
Luís Aleluia (LA) – Porque eu vivia num agregado familiar em que se passava alguma violência doméstica. Fui vítima de violência doméstica. O meu pai nunca soube, porque estava doente, para não o incomodar… Eu era quase proibido de lhe contar, para que não houvesse conflitos, para o defender um pouco.
DO – Por parte da sua mãe ou do seu padrasto?
LA – Do meu padrasto, nunca da minha mãe. Eu e a minha mãe fomos vítimas dessa violência por causa do vinho, por causa do futebol… Perdia o Vitória (de Setúbal) eu levava pancada, ganhava o Vitória levávamos pancada… Éramos postos na rua, a chover, sei lá… montes de coisas. Ele trancava a porta de casa, mas por dentro e com a chave metida na fechadura para depois não podermos tirar… Eu lembro-me de, com sete, oito anos, subir pelo telhado, depois tirava a chave por dentro… São coisas que uma criança nem deve passar, nem deve viver, porque isso vai marcar a vida toda.
DO – Essa violência para consigo foi até aos 9 mas desde que idade?
LA – Eu recordo-me a partir dos 6,7,8,9, por aí, porque fazia barulho, por qualquer coisa…
DO – Aprende-se a viver com o medo?
LA – Às vezes misturamos o medo com o respeito, respeitamos porque temos medo de faltar ao respeito e que isso nos puna de qualquer maneira. É como o cão, o cão obedece-te, mas se não pode ser, tu tens de bater para ele criar hábitos de convivência. Isso acontece muito nas relações onde há violência.
DO – A violência de ver a nossa mãe ser violentada é tão violenta como a dor no nosso corpo?
LA – É e calculo que ao contrário seja ainda pior. E muitas vezes ela apanhou, porque se pôs à minha frente.