Mesmo antes de conquistar a Europa, Ricardo Filipe da Silva Duarte Braga era há muito uma estrela no futsal. Mais conhecido por Ricardinho, o capitão da seleção nacional de futsal, foi eleito o Melhor Jogador do Mundo em 2010, 2014, 2015, 2016 e 2017, numa prova de inegável qualidade.
Comparado por muitos a Cristiano Ronaldo, foi desviado do futebol de 11, primeiro pela baixa estatura (tem 1,67 m) e mais tarde por fuga de informação quando, em 2007, estava para ser testado por o atual selecionador nacional, Fernando Santos, no Benfica. Mas, a bola nunca o largou, como que um karma que, no passado sábado, fez a Nação brilhar na Eslovénia com a conquista do Europeu.
Muito antes, o esférico e a magia do desporto terão sido o escape para um futuro menos desejável pois, oriundo de uma família de parcos recursos, cresceu à margem do mundo do crime e da droga em Gondomar, sem nunca cair na tentação. E assim se ganhou um grande atleta.
Com estatuto superior, Ricardinho não renega as raízes e é, com a assiduidade que a agenda profissional permite, que regressa ao Bairro de Timor, em Valbom, e reencontra velhos amigos. “Sempre que lá vou faço questão de manter as mesmas rotinas: passar no café onde ia com os meus pais e ver o campo de futebol onde tudo começou”, contou numa das muitas entrevistas de vida que já deu.
E, foi na cidade natal que, esta terça-feira, que recebeu a justa homenagem na Câmara Municipal. Nitidamente emocionado, foi indicado embaixador da Rota da Filigrana, oferecendo em troca a camisola da seleção nacional.
Sem a tão badalada namorada, a espanhola Mádelin, por perto, mas com os filhos, Lisandro, de 10 anos, e Riana, de 5, (a mais nova é fruto da anterior relação com a cantora Ana Duarte), pela mão, o craque distribuiu abraços a quem o terá sempre como filho da terra. E, no discurso, foi às crianças e também aos pais que se dirigiu com especial apreço.
A viver em Madrid há cinco anos, Ricardinho tem no currículo a passagem também pelo Japão e Moscovo, o que lhe dá uma bagagem cheia de experiências e multiculturalidade, longe dos tempos em que não havia comida na mesa ou do dia em que a casa da família, em Fânzeres, ardeu, levando o pouco que o clã tinha.
O destino dele começou a escrever-se aos sete anos, quando despertou o interesse de Carolina Silva que se tornou a sua “tutora desportiva” e também é a ela que o “mágico” Ricardinho dirige grande parte dos agradecimentos na hora da consagração.
Com contrato com os espanhóis do Inter Movistar até 2020, quando tiver 35 anos, o jogador só tem uma certeza: “Quero terminar a carreira como referência”. Para já, há que recuperar da lesão que sofreu na Eslovénia e que o obriga a parar cerca de duas semanas.