Depois de ter arrasado o Festival da Canção (pela “desafinação”), a Eurovisão (uma “pimbalhice” e um “circo”) e Tozé Brito (“já é a segunda vez que praticamente defende o plagiador”), enquanto fazia uma vénia a Diogo Piçarra (“foi um homenzinho”), o cantor volta a dar que falar.
Ainda na sequência da entrevista que deu a Rui Unas no podcast ‘Maluco Beleza’, Rui Veloso volta ao tema Eurovisão e Salvador Sobral.
Naquela que é a quarta parte da entrevista, publicada no final do dia desta terça-feira, o ‘Chico Fininho’ começa por falar da “prisão terrível” que é uma pessoa ficar conotada só com uma canção de sucesso. Neste caso, ‘Amar Pelos Dois’.
“Em que medida isto pode ser mau para ele?”, perguntou-lhe Unas.
“Porque ficou famoso muito rápido. É horrível. A fama é uma coisa que tira mais do que dá. O que interessa é o sucesso pelo trabalho que se faz. Um gajo ficar famoso por causa de uma canção é terrível”, respondeu Veloso, lembrando o momento em que Salvador gravou o tema no seu estúdio antes do Festival da Canção.
“Eu sei porque essa sensação que tive com ele, ele não queria cantar a canção. Eu disse: ‘Eh pah, oh Salvador, vais ter de cantar a canção!’ Mas entra logo em rejeição que acho isso uma coisa natural”, lembrou, referindo-se ao facto de Sobral, na altura, ter “um disco saído de jazz mas depois ficar conhecido só por causa de uma canção, é terrível”.
“É uma prisão terrível. Fica com responsabilidade de fazer outra que tenha tanto sucesso. É horrível. E para o Salvador, que estava a começar e que está a começar, não é especialmente bom”.
De seguida, Rui Veloso elogiou o televoto que consolidou a vitória de Portugal na Eurovisão.
“Achei que o Salvador ter ido [ao Festival], a única coisa boa daquilo, para mim, para além do sucesso do Salvador, de quem eu gosto muito e sou amigo dos pais e conheço a Luisinha também, sou amigo dos tios, etc, foi que metem-nos pela boca adentro, pela goela abaixo, que a televisão e estas coisas que nós vemos na televisão é assim porque o povo quer”, atirou.
“O povo é que gosta da Casa dos Degredos, o povo é que gosta do Big Brother, o povo é que gosta dos Ídolos, o povo é que gosta disso. No entanto, numa votação, num festival que é do mais pimba que há, numa votação de público, as pessoas escolheram o que era bom, na minha perspetiva”, apontou, justificando logo o seu ponto de vista.
“E isto provou que, apesar desses diretores, da inteligência nos quererem dizer – a mim não me dizem – que nós pomos isto porque o povo quer e não há alternativas, o próprio povo provou que isso é mentira. Porque escolheram a canção mais despida do festival, não é? Eu não vi as outras no Festival porque aquilo é horrível. Não é visível”, voltou a dizer.
“Não é audível”, corrigiu Rui Unas, ao que Veloso continuou. “Só se uma pessoa quiser ficar mal-disposta. Se for depois do jantar é difícil… Aquilo é um festival de ruído, basicamente. Uma coisa horrorosa”.
“O Salvador foi uma espécie de um anjo ali no meio daquilo tudo, no meio dos diabinhos”, assegurou, mesmo sem ter visto a concorrência.
A conversa, longa, passou para o que o compositor de ‘Não Há Estrelas no Céu’ aconselharia Salvador a fazer em termos de gestão de carreira.
“Tem que se resguardar. E depois o Salvador não compõe. Tem que ter, fundamentalmente, muita paciência porque as coisas não acontecem de um dia para o outro. Para ter uma carreira sólida e alguma longevidade, tem que ter calma”, defendeu o consagrado artista, passando depois a falar de quem está a começar.
“O Salvador, a primeira maquete que fez, foi no meu estúdio com o Henrique Janeiro. O puto que agora foi cantar [ao Festival da Canção]. Dei-lhe aquilo porque sou amigo e ofereci-lhe aquilo. Estiveram um dia lá a gravar coisas e tal”.
O assunto Salvador e Festival terminou com outra sugestão de Veloso. “Ele está sujeito a pressões. Tem que fazer um disco quando encontrar canções que ele gostar. E provavelmente o melhor é andar à procura das canções. Quando arranjar uma boa, grava e põe na net. Fica mais barato. E quando tiver 10 canções, põe um extra, fotos bonitas, quem fez o disco”.
Pode ouvir isto tudo logo no início da quarta parte da entrevista, com mais de uma hora de duração:
Imagens: Youtube e Facebook