Era um génio, mas chegou a dizer numa entrevista publicada na revista ‘New Scientist’ que as mulheres eram “um mistério absoluto”. E de facto assim foi, se tivermos em conta que teve dois casamentos e duas separações.
Dizem as ex-mulheres de Stephen Hawking que a fama foi um fator para a rutura. O físico britânico, considerado o pai da astrofísica moderna, pode ter desvendado os maiores enigmas do Universo mas não o mundo feminino.
Casou-se em 1965 com Jane Wilde, de quem teve três filhos: Lucy, Tim e Robert Hawking, numa altura em que já tinha sido diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica e que lhe davam apenas dois anos de vida. Viveu até aos 76 anos e pelo meio trocou a esposa pela enfermeira que cuidava dele.
Jane, que tinha deixado tudo para cuidar de Stephen, contou em tempos como era viver com a promessa da ciência.
“Tinha que prepará-lo de manhã, levá-lo para o escritório dele, que estava muito perto de nossa casa, preparar as suas refeições, depois vinha o jantar… O Stephen precisava de três grandes refeições por dia. Quando tivemos filhos, havia fins de semana em que ele estava sentado na sua cadeira de rodas e passava dia após dia sem dizer nada. Preocupei-me e perguntei se ele estava magoado com algo, se ele se sentia mal com as crianças ou comigo…”, disse Wilde em 2015 à ABC, depois de publicar as suas memórias, “Towards the Infinite”, livro sobre o qual se baseia o filme “A Teoria de Tudo”.
“Ele tornou-se uma estrela, todas as pessoas adoravam-no, especialmente as enfermeiras, que o tornaram um Deus, mas as crianças e eu fomos encurralados como se não tivéssemos o direito de viver com uma pessoa com a sua inteligência e brilho”, explicou numa outra entrevista para El Periódico.
“Continuamente havia jornalistas em casa, a mexer em tudo. Era o preço da fama, mas a fama era apenas para ele. Para o resto da família, foi um verdadeiro pesadelo”.
Em fevereiro de 1990, Hawking deixou Jane para viver com uma das enfermeiras que cuidava dele, Elaine Mason, com quem se casou em 1995.
A fidelidade e a devoção com que ela o tratou não foi recompensada, já que Wilde sentiu-se naturalmente traída pelo homem pelo qual deixou a sua própria vida em suspenso. “Às vezes senti-me tão reduzida ao ponto de considerar suicídio. Se não fosse o Jonathan (Hellyer Jones, seu segundo marido), eu teria cometido suicídio”.
O casamento de Stephen com Elaine Mason também não funcionou. “Controladora, manipuladora e mandona”, definiam-na, chegando a comentar que ela maltratou Hawking e o submeteu a contínuas humilhações.
No entanto, aparte a vida pessoal, o físico – um dos maiores nomes da ciência desde Einstein – destacou-se noutras vertentes, sem ser apenas a académica.
Por exemplo, era reconhecido o seu sentido de humor. Participou em várias séries, com destaque para os “The Simpsons”.
Até tinha no seu escritório a réplica da sua personagem – em cor amarela – na série norte-americana, chegando a dizer: “As aparições nos Simpsons foram muito divertidas. Eu não as levo muito a sério. Mas acho que os Simpsons trataram a minha deficiência com responsabilidade”. Considerava a série “o melhor da televisão americana”.
Inspirou filmes, livros e músicas e deu a ganhar um Óscar a Eddie Redmayne, o ator que interpretou o astrofísico em “A Teoria de Tudo” (2014).
A série “A Teoria do Big Bang” – cujo elenco já fez a sua homenagem ao físico após a notícia da sua morte, esta quarta-feira, 14 de março – foi inspirada em Hawking. Este chegou a participar nalguns episódios.
Num em concreto levou ‘Sheldon Cooper’ ao desmaio, por ter cometido um erro de aritmética, que o cientista apontou.
Hawking também apareceu várias vezes no outro sucesso animado de Matt Groening, “Futurama”, assim como foi o seu próprio holograma num episódio de 1993 de “Star Trek: The Next Generation”, onde jogava poker com Einstein e Newton.
A voz metálica na música “Keep Talking” da banda Pink Floyd é a voz sintetizada do físico, que devido à doença comunicava através de uma voz processada por um computador.
Também deixou conhecidas várias frases:
– Sobre o porquê da existência do universo
“Se encontrarmos a resposta, seria o último triunfo da razão humana – nesse momento, saberemos o pensamento de Deus e conheceremos o espírito de Deus” (em “Uma Breve História do Tempo”, publicada em 1988)
– Sobre a sua doença
“As minhas expectativas foram reduzidas para zero aos 21 anos. Tudo desde então é um bónus” (entrevista ao “New York Times”, em dezembro de 2004)
“Eu vivi cinco décadas mais do que os médicos haviam predito. Eu tentei fazer bom uso do meu tempo (…) Porque todos os dias pode ser o meu último, eu desejo tirar o máximo de cada minuto” (no documentário “Hawking”, 2013)
– Sobre Deus
“Não é necessário invocar Deus para acender o pavio e colocar o universo em movimento” (em “O Grande Projeto”, publicado em 2010)
– Sobre a celebridade
“A desvantagem da minha celebridade é que eu não posso ir a qualquer lugar sem ser reconhecido. Não serve de nada usar óculos de sol e uma peruca. A cadeira de rodas trai-me” (entrevista na televisão israelita, dezembro de 2006)
– Sobre os intelectuais que se gabam
“As pessoas que se vangloriam do seu QI são perdedoras” (entrevista no “New York Times”, dezembro de 2004)
– Sobre a perfeição
“Sem imperfeição, você e eu não existiríamos” (no documentário “Into The Universe”, no Discovery Channel, 2010)
– Sobre a vida extraterrestre
“Se os extraterrestres nos visitarem um dia, acho que o resultado será semelhante ao que aconteceu quando Cristóvão Colombo desembarcou na América, resultado que não é realmente positivo para os índios” (no documentário ‘Into The Universe’, no Discovery Channel, 2010)
– Sobre a inteligência artificial
“As formas primitivas de inteligência artificial já provaram ser muito úteis, mas acho que o desenvolvimento de uma inteligência artificial completa pode acabar com a raça humana” (em declarações à BBC, dezembro de 2014)
– Sobre a morte
“Eu vivo com a perspetiva de uma morte precoce há 49 anos, não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer, há tantas coisas que eu quero fazer primeiro” (entrevista ao “The Guardian”, maio de 2011)
Também ficaram famosos os avisos que fazia sobre o fim do mundo.
Resta-nos menos de 600 anos
Se a humanidade não se tornar uma espécie espacial nos próximos cinco séculos, talvez seja extinta, disse Stephen Hawking, em novembro de 2017, durante a abertura de um evento em Pequim (China).
Segundo ele, o crescimento populacional e o aumento do consumo de energia transformarão a Terra numa bola de fogo até 2600.
Inteligência Artificial devia preocupar-nos
Ele reconheceu o potencial dessa tecnologia para erradicar a pobreza, as doenças e até para transformar a sociedade como um todo para algo melhor. Mas, mesmo assim, diz que devemos estar preparados para o pior.
“O sucesso em criar a inteligência artificial pode ser o maior evento na história de nossa civilização. Ou o pior. Nós só não sabemos. Nós não podemos saber se seremos infinitamente ajudados ou até destruídos por ela.”
Precisamos de “um novo lar”
No documentário “The Search for a New Earth”, o britânico disse que é imprescindível desenvolver tecnologias que possibilitem a colonização de um outro planeta com a maior urgência possível e sugere o Ross 128 b como ‘novo lar’ da humanidade.
Aliens não são a solução
Em julho de 2017, Hawking alertou ser pouco provável que qualquer forma de vida alienígena ficasse satisfeita ao saber da nossa existência.
De acordo com ele, os alienígenas podem ser “saqueadores” que conquistam os planetas para se apropriar dos recursos.
Alterações climáticas podem deixar a Terra como Vénus
Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a saída do país do Acordo Climático de Paris, o físico britânico repetiu alertas a respeito dos perigos das mudanças climáticas.
“As ações de Trump podem levar a Terra à beira do abismo e transformá-la em Vénus, com uma temperatura de 250ºC e chuva de ácido sulfúrico.”
“Estamos num ponto crítico no qual o aquecimento global vai-se tornar irreversível”, alertou o cientista.
Segundo Hawking, essa é “uma das maiores ameaças que enfrentamos e que podemos prevenir se agirmos agora”.
Grande guerra mundial pode ser o fim da raça humana
“O fracasso humano que eu mais gostaria de corrigir é a agressão”, disse Hawking numa palestra no Museu da Ciência de Londres, em 2015.
“Pode ter sido uma vantagem para a sobrevivência na época dos homens das cavernas, para conseguir mais comida, território ou parceiros para reprodução, mas agora é uma ameaça que pode destruir todos nós”, afirmou o físico, que acrescentou que uma grande guerra mundial significaria o fim da civilização e talvez o fim da raça humana.
Engenharia genética ameaça mais que as armas nucleares
Em 2001, Hawking disse ao jornal britânico ‘Daily Telegraph’ que a raça humana enfrenta a perspetiva de ser exterminada por um vírus criado por ela mesma.
“A longo prazo fico mais preocupado com a biologia. Armas nucleares precisam de instalações grandes, mas engenharia genética pode ser feita em um pequeno laboratório. Você não consegue regulamentar cada laboratório do mundo. O perigo é que, seja por um acidente seja algo planeado, criemos um vírus que possa nos destruir”, disse o cientista.
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