Esteve mais de quatro décadas no canal público, que nunca trocou por considerar a sua “casa” apesar de ter tido “sondagens” da concorrência ao longo dos anos, e é o histórico apresentador de ‘Jogos em Fronteiras’ ou ‘Festival da Canção’, venha quem vier.
Eládio Clímaco reformou-se aos 72 anos e aos 76 deu uma entrevista no ‘Alta Definição’ de Daniel Oliveira, este sábado, onde falou do que o levou a sair da RTP.
“Qual foi o pior que lhe fizeram?”, perguntou o anfitrião da SIC.
“Há pouco tempo, no Festival da Eurovisão, quando ganharam os Lordi”, respondeu prontamente, referindo-se à vitória do grupo finlandês – que usava máscaras de monstros – em 2006 com uma música rock.
“Disse na cabine que ganhavam os efeitos técnicos. No final dei a mão à palmatória e disse ‘Bem, lá vão ganhar os monstrinhos’. Os produtores acharam que não devia ter dado a minha opinião. Nunca mais fui fazer a Eurovisão”, lembrou, visivelmente magoado.
“Não me roubaram a alegria de viver. Roubaram-me o prazer de viver”, continuou, ele que foi posto na ‘prateleira’ durante seis anos depois desse episódio em que, como comentador, deu a sua opinião de um tema no Festival.
Daniel Oliveira pegou no assunto ‘Eurovisão’ e questionou Eládio sobre a vitória de Salvador e o facto de agora o certame ser em Portugal e aquele não ter sido convidado.
“Sinto uma alegria mas ao mesmo tempo uma tristeza porque nunca consegui trazer a Eurovisão para Portugal”, começou por dizer, ele que se estreou na condução do certame nacional em 1976, tendo feito dupla com Ana Zanatti em várias edições.
Eládio Clímaco confessou que “estava um bocado longe” de imaginar numa vitória lusa no certame, “mas o Salvador tem algo nele que capta as pessoas. A maneira de cantar, de estar”.
Pela conversa que se seguiu, o apresentador confessou estar deprimido, sendo que está a fazer tratamentos e a tentar “tirar medicamentos que me travavam a memória”.
“Quando saí da televisão [em 2012], tive um grande choque”, descreveu, sendo que “para superar a falta da televisão, fui fazer ginásio de manhã até à noite e estava na boa. Depois fartei-me”.
O facto dos amigos que tinha no meio e “que me zelaram no princípio” terem morrido também não ajuda.
“Passado eu tenho, futuro já é mínimo (…) Agora já não presto para nada, as pessoas neste país são descartáveis aos 70 anos. É uma coisa que não acontece nos outros”, contou.
Eládio falou ainda do “desgosto de não ter um filho”, porque “a vida não dava para ter” pois “estava loucamente apaixonado pela televisão”, e da sua relação com os pais, entretanto falecidos e que o impediram de se casar com a grande paixão da sua vida: uma jovem com quem esteve dos 13 aos 22 anos.
“A minha mãe [espanhola] sempre condenou. Ela lá tinha as suas razões. Ou porque se eu me casasse, ela perderia a minha companhia. Desfizeram esse casamento. Foi traumatizante para mim. Vi-a depois casada, com filhos, e cheguei a ter o filho dela no colo. Mas nunca mais a vi. Continuo sempre a sentir um baque no coração”.
Filho único, diz agora sentir-se por vezes sozinho e solitário e a pensar muito na morte, mas gostava de ser recordado “como uma pessoa que entregou a sua vida a entreter milhões de portugueses na televisão”.
“Disseram-me outro dia uma coisa muito bonita: ‘Muito obrigado por ter preenchido a minha vida com a sua presença na televisão’. Adorei isto. É a melhor homenagem que me podiam ter feito”, confessou, emocionado.
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