O melhor marcador do FC Porto é um verdadeiro caso de estudo. Esta época é o ídolo dos adeptos que bem podem atribuir ao avançado maliano o sucesso rumo ao título, mas foi tarde que surgiu no desporto-rei de competição.
Moussa Marega, de 27 anos, nasceu e cresceu nos subúrbios de Paris, embora tenha passaporte do Mali de onde os pais saíram à procura de uma vida melhor, e foi na rua 14 do bairro onde morava que começou a jogar futebol com os amigos.
Mais a sério, aos 17 anos, ingressou no CO Les Ulis, onde a superioridade física e os golos marcados começaram a dar nas vistas e demorou três anos até se transferir para o Évry FC, que militava nas distritais francesas. Tinha 20 anos e um ano depois já estava no Le Poiré-sur-Vie, um pequeno clube a 65 quilómetros de Nantes, da terceira divisão.
Na época seguinte, no mesmo escalão, mas ao serviço do Amiens, após assinar nove golos, deu o salto para a Tunísia. Um imbróglio burocrático impediu-o de jogar durante oito meses o que alertou o Marítimo que não tardou a ir buscá-lo, em janeiro de 2015.
Aterrado na Madeira – onde no domingo brilhou, mas de dragão ao peito -, Marega iniciava a ascensão até ter cânticos em sua honra nas bancadas e também entre os colegas no plantel orientado por Sérgio Conceição.
A ligação ao Porto começou no início de 2016, após disputa entre azuis e brancos e o Sporting, mas não foi um arranque feliz e os adeptos leoninos até chegar a gozar com as suas fracas exibições, exibindo uma tarja com a frase “Mete o Marega”.
Fragilizado psicologicamente, mas sem nunca atirar a toalha ao chão, Moussa Marega esperou pelas férias em França e procurou ajuda para se reerguer junto do amigo Fabien Delporte.
Criador de um programa baseado no tipo de treino aplicado a bombeiros, o mental coach trabalhou-lhe a mente e o físico em simultâneo e o resultado surgiu na época seguinte, quando o futebolista foi emprestado ao Vitória de Guimarães.
Sérgio Conceição notou que tinha ali homem não hesitando em resgatá-lo em prol de uma equipa renovada, com mística em que, de facto, Marega tem mostrado valer a aposta. E a verdade é que nas derrotas em Paços de Ferreira e no Belenenses ele não esteve devido a lesão.
Cada golo é uma festa que Marega celebra com um gesto especial: o craque cruza os braços com quatro dedos abertos numa mão e um na outra em homenagem aos companheiros de peladas da rua 14 quando ainda não se imaginava a ser pago para jogar futebol e fazer o povo sonhar.
Fora das quatro linhas, Moussa Marega é um homem discreto dedicado à mulher e ao filho que em julho completa um ano.