O estudo não é de agora, mas numa altura em que a morte do DJ Avicii, aos 28 anos, continua a dar que falar, faz ainda mais sentido.
Vários estudos académicos mostram que trabalhar na área das artes pode trazer problemas para a saúde mental de qualquer pessoa, quer esteja sem dinheiro, quer seja milionário.
A Victoria University, por exemplo, publicou um relatório ligando a prevalência de problemas de saúde mental entre os profissionais de arte aos baixos salários, excesso de horas extras e problemas de segurança nas condições de trabalho.
E 60% dos músicos ouvidos pela instituição beneficente inglesa Help Musicians afirmaram já ter sofrido de depressão, horários anti-sociais de trabalho, problemas com dinheiro e inconstâncias na agenda foram citados como os maiores problemas.
O facto do ritmo intenso de trabalho resultar, na maioria das vezes, em falta de sono, abuso de álcool e drogas piora qualquer vida, incluindo a de um grande artista.
Também há uma labuta diária que se esconde por trás daquelas fotos no Instagram que mostram jatos particulares e piscinas de hotéis de luxo. Isolamento, padrões de sono irregulares, longas semanas, até meses, longe dos amigos e das pessoas queridas, turbulentos altos e baixos na carreira, e uma cultura endémica de consumo pesado de álcool e drogas.
Foi por isso que Avicii se reformou, em 2016, e tirou a própria vida, a 23 de abril deste ano: para acabar com o sofrimento. Apesar de ser um dos DJ mais bem pagos do mundo e de ter apenas 28 anos.
O mito nova-iorquino de house music, Erick Morillo, também revelou que a sua vida começou a piorar depois da sua carreira perder o gás: o vício em ketamina injetável [anestésico para cavalos] que quase lhe custou um braço.
O pioneiro do dubstep Benga tirou um período sabático de dois anos, depois de receber o diagnóstico de esquizofrenia e transtorno bipolar, ambos causados, ou, pelo menos, ocultados, acredita ele, por anos inteiros de muito trabalho e uso pesado de drogas.
O incendiário produtor Deadmau5 também revelou a sua própria luta com “problemas de depressão”.
E até mesmo o imbatível mestre do techno Carl Cox anunciou, há anos, que ia diminuir o ritmo das tournées, porque tem medo de “ficar esgotado”. Cox parou de beber, de fumar e de usar drogas depois de um susto de saúde, mas mesmo sóbrio e saudável não conseguia aguentar a falta de sono e as mudanças constantes de fuso horário com as tours internacionais.
Mesmo aqueles mais bem sucedidos correm um sério risco de sofrer de saúde mental. Sono defasado, isolamento na estrada e longos meses longe das redes de apoio proporcionadas por família e amigos, um círculo de colegas em que a competição é forte, haters na internet e um trabalho caracterizado tanto por auges estonteantes quanto por pontos baixos devastadores: tudo isto pode destruir a vida até mesmo do artista de maior sucesso.
Some-se a essa equação também um estilo de vida repetitivo, que muito provavelmente funciona na base de fast food, nenhum exercício físico e consumo exagerado de drogas e álcool, e não falta mais nenhum componente para o desespero.
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