Aos 33 anos, Carminho é já um nome de referência no Fado. Esta quarta-feira, a artista recorda que foi com aquela que agora parte que muito aprendeu.
“Aprendi tanto. Era timidamente que, com 12 anos, ia ganhando coragem para me sentar à sua mesa, lá no Embuçado (a taverna dos pais), a primeira à esquerda”, começa por contar Carminho, recuando aos tempos em que Celeste Rodrigues, “sempre com um galão e um cigarro, ia ficando em silêncio até que alguma história ou memória fosse pertinente”.
“Era aí que eu tentava não perder nada. A vida na Beira, as cantigas da sua mãe, as noites de fado… E depois cantava. Cantava! Cantava de um lugar tão profundo como se o seu timbre doce e grave fosse trazer ali outras vidas. Era aí que eu mais queria aprender”, continua a fadista da nova geração, como a desfiar de memórias sem fim.
Os anos passaram e a irmã mais nova de Amália Rodrigues “voltava leve, sorridente. Já não era a mesma. Amou a vida até ao fim e queria vive-la completamente. ‘Eu cá durmo 3/4 horas por noite. Não quero perder tempo da vida a dormir’. E no Velho Páteo de Sant’ana, algumas noites na Petisqueira e mais tarde a Mesa de Frades onde continuou sempre generosa a dar o que sabia, com alma de criança e força de matriarca”, acrescenta Carminho.
Filha da também fadista Teresa Siqueira, a intérprete de “Alma” ainda agradece à família que fizeram “brilhar os olhos da nossa Celeste”. E, “pelos meus pais, irmãos e por mim, eu agradeço tudo o que trouxe ao Fado. Deixou-o diferente. O Fado esse, nunca a deixará! Obrigada querida Celeste”, conclui na hora de se despedir de quem a inspirou.