Distúrbios de sono estão associados ao desenvolvimento de Parkinson, Alzheimer e depressão.
Pessoas que sonham que estão a fazer algo brusco e repetem o mesmo gesto enquanto dormem, podem ter Parkinson em fase inicial. Conhecido como distúrbio comportamental do sono REM, o problema foi vivido pelo ator americano Alan Alda, de 82 anos, conhecido por seu papel na série M * A * S * H.
Através de um sonho incomum, o ator descobriu que tinha a doença, que atinge 1% da população mundial.
Durante uma entrevista ao CBS This Morning, Alan Alda contou que um sonho violento, no qual agia da mesma maneira enquanto dormia, o levou ao diagnóstico de Parkinson. “Eu sonhava que alguém me estava a atacar e eu atirava-lhes com um saco de batatas; na realidade, o que eu estava a fazer era atirar com um travesseiro na minha mulher”, contou.
O distúrbio comportamental do sono REM foi o único sinal da doença apresentado pelo ator, que foi diagnosticado com Parkinson há três anos e meio.
Distúrbios do sono
Segundo Claire Henchcliffe, diretora do Instituto de Doença de Parkinson e Transtornos do Movimento, nos Estados Unidos, distúrbios do sono, como insónia, síndrome das pernas inquietas, sonambulismo, entre outros, são muito comuns em pessoas com Parkinson. Apesar disso, os cientistas ainda não conseguiram explicar se o problema do sono é uma complicação da doença ou se é um precursor, um sinal claro que surge antes de outros sintomas.
Pesquisas de 2011, publicadas no jornal Lancet Neurology, determinaram que o distúrbio comportamental do sono REM, caracterizado por pesadelos nos quais a pessoa grita, chora, dá socos ou pontapés, pode ser um problema anterior à aparição de Parkinson. Apesar de não afetar apenas indivíduos com a enfermidade, em alguns casos, muitas vezes o distúrbio REM pode representar um sinal precoce, refere a revista Veja.
O distúrbio do sono tem sido associado a outras doenças neurodegenerativas, como Atrofia do Múltiplo-Sistema (degeneração celular que leva a problemas no equilíbrio e movimento) e demência, categoria que inclui o Alzheimer e a doença por corpos de Lewy. Um pequeno estudo com 26 participantes diagnosticados com distúrbio comportamental do sono REM apontou que 80% das pessoas desenvolveram alguma doença neurodegenerativa, incluindo o Parkinson. Um estudo recente associou os distúrbios de sono ao desenvolvimento de depressão, outro sintoma precoce da enfermidade.
No entanto, Claire Henchcliffe alerta que nem todas as pessoas com o distúrbio estão destinadas a desenvolver Parkinson. “Há uma série de razões possíveis para o desenvolvimento do transtorno, por isso, é necessário procurar um médico e tratar os sintomas, especialmente se forem incómodos”, recomendou.
Primeiros sinais
Um estudo de 2015, publicado no The Lancet, analisou dados de mais de 54.000 homens e mulheres britânicos e identificou uma série de sintomas precoces que apareceram em pessoas que, mais tarde, foram diagnosticadas com Parkinson. Entre eles estão tremores, problemas de equilíbrio, disfunção eréctil e urinária, pressão baixa, perda olfativa, tonturas, fadiga, depressão e ansiedade.
Os cientistas alertam que estes são sintomas prováveis, mas nem todos os pacientes os apresentam na fase inicial da doença; além disso, existem outros motivos que não estão relacionados ao problema. Ainda assim, é importante procurar um neurologista, pois, se for confirmado o diagnóstico, é possível começar o tratamento e melhorar a qualidade de vida.
O ator frisou que o principal motivo pelo qual decidiu falar sobre a sua condição médica foi para enviar uma mensagem de esperança às pessoas que estão a enfrentar a doença. Apesar de viver com Parkinson, Alan Alda mantém-se ativo e pratica aulas de boxe três vezes por semana.
Diagnóstico precoce
O Parkinson se caracteriza como um distúrbio do sistema nervoso central que afeta o movimento, incluindo tremores, lentidão de movimentos e rigidez muscular. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1% da população mundial acima de 65 anos tem Parkinson. Identificar precocemente os sintomas é importantíssimo porque mudanças no estilo de vida, como a prática de exercícios e uma dieta equilibrada, pode influenciar na qualidade de vida do doente.