Valorizar os sinais de sofrimento psicológico é o primeiro passo para evitar o suicídio.
1 pessoa em cada 40 segundos comete suicídio. É esta a estimativa que a Organização Mundial de Saúde faz para uma realidade que, só em 2017, vitimou cerca de 1000 pessoas em Portugal, segundo dados da Direção-Geral de Saúde.
Neste Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, 8 de setembro, é importante desmistificar um tema que é ainda tabu na nossa sociedade.
O suicídio define-se como um ato em que um indivíduo põe termo à própria vida, de forma intencional e voluntária. Embora possa afetar todo o tipo de pessoas, este comportamento é mais frequente em homens acima dos 65 anos e em jovens entre os 15 e os 24 anos.
Outros conceitos relacionados são atentativa de suicídio, na qual a pessoa tem intenção de morrer, mas sobrevive, e os comportamentos autolesivos, sem intenção letal, como por exemplo cortes infligidos no próprio corpo.
Na maioria dos casos, os comportamentos suicidários estão relacionados com fatores psicopatológicos, que vão desde a presença de uma depressão, esquizofrenia ou doença bipolar, estados de ansiedade, consumo de álcool ou de outras substâncias. Outros fatores como tentativas de suicídio anteriores, o historial suicidário na família, o contacto com este tipo de comportamento nos media, assim como algumas caraterísticas de personalidade (agressividade, ansiedade, perfecionismo, etc.), podem ser fatores precipitantes de comportamentos letais.
Os contextos familiar, social, económico e cultural também desempenham um papel crucial no desenvolvimento de quadros de grande angústia que podem resultar em pensamentos suicidas, os quais são tidos pelo indivíduo como a solução que irá acabar com a dor que está a sentir. Divórcio, dificuldades financeiras, desemprego, violência, bullying, morte de um ente querido, entre muitos outros, são algumas realidades que podem afetar de forma negativa o estado psicológico da pessoa e, por sua vez, despoletar atos suicidários.
Contudo, a presença de um ou mais fatores de risco não implica, por si só, que a pessoa atente contra a sua própria vida. Isto porque os pontos anteriormente mencionados manifestam-se de forma distinta em cada indivíduo.
São as pessoas mais próximas do indivíduo, como familiares e amigos, que têm um papel fulcral na identificação de sinais indicadores da presença de fatores de risco para comportamentos suicidários, dos quais se destacam: o sofrimento e tristeza profunda; o isolamento social; a baixa autoestima; as alterações repentinas de humor; a adoção de comportamentos de risco, como o consumo abusivo de bebidas alcoólicas ou substâncias psicotrópicas; os sentimentos de culpabilidade e de desvalorização pessoal; abordar temas relacionados com a morte ou o suicídio com maior frequência; ou expressar a intenção de cometer suicídio. Este último ponto jamais deve ser desvalorizado, dado que é frequente que a pessoa verbalize que pretende suicidar-se antes de realizar o ato.
Reconhecido o problema, a etapa seguinte passa por tentar ajudar a pessoa a sair da angústia em que se encontra, mostrando-lhe que existe um caminho diferente para solucionar aquilo que a atormenta.
Para isso, existem várias medidas que devemos tomar, nomeadamente:
– Levar a sério o estado em que a pessoa se encontra e não minimizar o seu sofrimento;
– Ouvi-la com atenção, de forma a perceber o que se passa e como podemos ajudar;
– Não criticar as suas intenções e tentar compreender as razões do seu desespero;
– Tentar perceber quais os planos e métodos que a pessoa tem para concretizar o suicídio;
– Transmitir empatia e confiança, demonstrando que através de si há sempre a possibilidade de desabafar e de encontrar conforto e ajuda para os problemas;
– Ponderar, em conjunto, soluções alternativas para o problema que despoletou a intenção suicidária;
– Propor a ajuda de terceiros, incluindo a procura de apoio especializado, nomeadamente o apoio psiquiátrico ou psicológico.
O tratamento a adotar irá depender dos fatores que desencadearam as intenções suicidas. Caso estejamos perante um quadro psicopatológico, a psicoterapia e a utilização de fármacos são dois métodos a considerar, assim como, em última instância, o internamento. Para os restantes casos, o tratamento e acompanhamento psicológico regular poderão ajudar a pessoa a ultrapassar o estado de angústia extrema em que se encontra.
Artigo de Opinião de Joaquim Cerejeira, Psiquiatra e Diretor Clínico da UPPC