O ícone da música, de 78 anos, contou detalhadamente os altos e baixos da sua carreira, e como acabou nos braços do seu marido, Erwin Batch.
No livro de memórias “My Love Story” (Minha História de Amor), relata os problemas de saúde enfrentados nos últimos anos, quando até chegou a pensar em suicídio.
Tina Turner descreve como, em 2013, aos 73 anos, era a rapariga mais velha da história da capa da Vogue, estava numa ótima forma e saudável, pois nunca fumou ou consumiu drogas.
Nesse ano, apenas três meses depois do seu casamento com o empresário Erwin Batch, sentiu, quando acordou, como se um raio tivesse atingido a sua cabeça e a perna direita. Tentou falar, mas não consegui pronunciar nenhuma palavra. Levada para um hospital na Suíça, onde vive há muitos anos, foi diagnosticada como tendo sofrido um derrame. Com pressão alta, precisou tomar medicamentos fortíssimos, que acabaram por lhe afetar os rins.
Meses depois teve outro duro golpe: os médicos descobriram sofria de cancro no intestino. Precisou de remover um pedaço do órgão. A nova cirurgia ajudou a piorar os rins que estavam a trabalhar com apenas 35% das suas funções normais. Tinha duas opções, ou diálise regular ou um transplante.
“Somente um transplante me daria uma boa oportunidade de levar uma vida normal. Mas as chances de conseguir um doador eram remotas”, explicou, revelando ter contemplado a ideia de suicídio. “Aquela não era a minha ideia de vida. As toxinas no meu corpo estavam a tomar conta de tudo. Eu não podia comer. Sobrevivia, mas não vivia”, confessa no livro.
“Comecei a pensar na morte. Se os meus rins estavam a parar e era a hora de eu morrer, poderia aceitar isso. Eu não me importava de morrer, mas preocupava-me a maneira como iria morrer”. Como o suicídio é legalizado na Suíça – o paciente injeta em si mesmo uma droga letal -, inscreveu-se numa organização que facilita o processo. Mas o marido não aprovou a ideia.
“Ele foi muito veemente em não me querer perder, não querer que eu partisse. Disse que não queria outra mulher ou outra vida; nós éramos felizes, e faria qualquer coisa para ficarmos juntos”, conta Tina Turner. “Então deixou-me chocada. Disse que queria dar-me um de seus rins. Fiquei surpresa pela enormidade da oferta. E por que amo Erwin, a minha primeira resposta foi tentar que ele desistisse de dar um passo tão sério e irreversível”, relata, recordado o momento em que avisou o marido, 16 anos mais novo, que deveria pensar no futuro. “Mas ele já estava decidido. ‘O meu futuro é o nosso futuro’, disse-me ele”.
O transplante aconteceu na cidade de Basel, no dia 7 de abril de 2017, após o empresário passar por uma bateria de testes físicos e psicológicos. “Eu não podia perder a minha força, energia ou coragem”, lembra a cantora, que também tinha o coração fragilizado devido aos anos de pressão alta. “O músculo estava alargado e os vasos calcificados. Havia dúvidas se um coração fraco sobreviveria à operação”.
Enquanto Erwin rapidamente voltou ao normal, a diva teve altos e baixos.
“A minha aventura médica está longe de acabar”, assume Tina Turner. “Mas ainda estou aqui. Nós dois ainda estamos aqui, mais próximos do que imaginávamos e isso é motivo de celebração. Erwin sabia que a velha Tina estava de volta quando fiquei entusiasmada em decorar a casa para o Natal (de 2017) e encomendei mesas novas para a sala de estar. Após tantos anos assustada e doente, eu rejubilava com a absoluta alegria de estar viva”, afirma.
Tina Turner fala ainda sobre o relacionamento abusivo que manteve com o primeiro marido, Ike Turner, como foi difícil voltar a namorar depois do divórcio e como acabou por encontrar o amor da vida dela, que lhe deu o “presente supremo – o presente da própria vida”.
Casamento de sonho
“O dia do meu casamento não poderia ter sido mais perfeito ou espetacular – e ninguém se importou nem um pouco se a noiva tinha 73 anos. Eu mesmo organizei as coisas todas, e isso incluiu a importação de mais de 100.000 rosas para enfeitar os jardins da nossa casa”, revela.
“Pensei muito na escolha da música para o casamento. Se ouvirem “My Way, de Frank Sinatra, as palavras encaixam-se perfeitamente na minha vida (…) Teve que ser essa! Apesar do meu famoso primeiro casamento abusivo, com Ike Turner, eu consegui encontrar o amor para além dos meus sonhos mais loucos”, relata.
“Quando nos reunimos para as fotografias comecei a sentir-me um pouco esquisita. Deve ser o calor, pensei, ou o vestido – uma craiação Armani de tafetá verde, tule de seda preto e cristais Swarovski que ficava mais pesado a cada minuto”, relata, o que na verdade seria o primeiro sinal da “provação infernal” que iria viver em termos de saúde e que só terminou com o transplante.
Como Tina Turner conheceu o marido
“Erwin e eu nos conhecemo-nos 28 anos antes. Na época, eu viajava pelo mundo com a minha tournée, que me deixava pouco tempo para a vida pessoal”, explica.
“Naquela semana em 1985, a próxima data da minha tournée era em Colônia, na Alemanha. Quando o meu agente, Roger, e eu voamos para a cidade, estava cansada e um pouco em baixo, pensando na agenda cansativa que tinha pela frente. Estávamos a caminhar pelo aeroporto quando um rapaz saiu de trás de uma coluna para nos cumprimentar. Achei que fosse um fã, mas o Roger cumprimentou-o calorosamente. Erwin Bach, um executivo da EMI, a minha editora na Europa. Apareceu para me oferecer um presente, um novo jipe da Mercedes, o G-Wagon, difícil de conseguir. Mas a verdadeira surpresa não era o carro, era o homem. O meu coração de repente começou a bater BOOM, BOOM, BOOM, abafando todos os outros sons. As minhas mãos estavam geladas. Então é isso que eles chamam de amor à primeira vista, pensei. Oh meu Deus, eu não estou pronta para isto”, escreve na sua biografia.
“Estudei o perfil dele. Ele era jovem – cerca de 30, imaginei (…)”, começando a sentir-se insegura sobre a sua aparência e os seus 46 anos, divorciada e mãe de dois filhos e dois enteados, que eram praticamente homens. Mais tarde, muito depois, descobriu que Erwin sentiu a mesma inexplicável carga elétrica: “Quando ele olhou para mim, disse, que não viu a ‘estrela’, ou a minha cor de pele ou qualquer outro detalhe. Ele tinha acabado de ver uma mulher muito desejável”.
“Na segunda vez que nos vimos, estávamos sentados um ao lado do outro (…) Erwin, sussurrei, quando fores aos EUA, eu quero que faças amor comigo. Ele virou a cabeça lentamente e apenas olhou para mim como se não pudesse acreditar no que tinha ouvido. Eu também não podia acreditar no que tinha dito. Mais tarde, ele disse-me que nunca tinha sido abordado dessa forma por uma mulher. O seu primeiro pensamento foi: ‘Uau, essas miúdas da Califórnia são realmente selvagens’. Mas eu não era selvagem. Nunca tinha feito nada assim. Não me reconheci. Quando Erwin veio a Los Angeles – a negócios – e o encontrei novamente noutro jantar, convidei amigos para a minha casa e foi aí que o nosso verdadeiro romance começou. A música estava a tocar, os outros convidados afastaram-se, o beijo começou e beijamos todo o caminho até ao quarto. Erwin ficou comigo naquela noite”, pormenoriza sobre a história de amor com um homem 16 anos mais novo, coisa que nunca foi um problema para ela.