A doença de Parkinson pode ter origem nas profundezas do sistema digestivo, segundo um novo estudo publicado na revista Science Translational Medicine, realizado por cientistas norte-americanos.
A pesquisa descobriu que as pessoas a quem lhes foi retirado o apêndice, tinham menos hipóteses de desenvolver essa doença neurodegenerativa.
Segundo os cientistas, no apêndice, pequeno órgão cuja utilidade no corpo humano ainda é uma dúvida, há a acumulação de uma proteína associada ao Parkinson, a alfa-sinucleína.
Estudos anteriores já haviam demonstrado excesso de formatos mutantes dessa proteína no cérebro de pacientes com Parkinson. Viviane Labrie, uma das autoras do estudo, disse que essa proteína “é capaz de viajar pelo nervo que conecta o trato gastrointestinal (onde fica o apêndice) até o cérebro, dissemina-se e ter efeitos neurotóxicos”.
A organização sem fins lucrativos de pesquisa e apoio Parkinson UK, do Reino Unido, diz que a descoberta representa a evidência mais forte de que a origem da doença pode estar localizada fora do cérebro.
Na doença de Parkinson, proteínas tóxicas acumulam-se no cérebro e matam os nervos, especialmente aqueles ligados ao movimento. Embora possa parecer contraintuitivo, há evidências crescentes de que o sistema digestivo está ligado à doença.
Papel do sistema digestivo e do apêndice
Investigadores do Instituto de Pesquisa Van Andel, analisaram dados médicos de 1,6 milhão de suecos durante mais de 50 anos e constataram que o risco de desenvolver a doença de Parkinson foi 19,3% menor naqueles pacientes que haviam passado pela cirurgia de remoção do apêndice.
O estudo aponta que essa relação ocorreu apenas em pacientes que retiraram o órgão anos antes de desenvolverem os primeiros sinais de Parkinson. Aqueles que retiraram o órgão após apresentarem sintomas de Parkinson não tiveram nenhuma melhoria no quadro.
“Apesar de ter uma reputação de algo completamente desnecessário, o apêndice desempenha um papel importante no nosso sistema imunológico, na regulação da composição das nossas bactérias intestinais e agora, como mostramos com o nosso trabalho, na doença de Parkinson”, diz a investigadora Labrie.
O apêndice obviamente não é o único fator que entra em jogo na doença Parkinson. Nesse caso, removê-lo resolveria o problema. Mas os cientistas argumentam que o sistema digestivo é um solo fértil para essa proteína alfa-sinucleína, que viaja através do nervo vago até o cérebro.
A cientista diz que o estudo não quer fazer com que as pessoas removam o apêndice. “Não estamos a promover a apendicectomia como uma forma de proteção contra a doença de Parkinson”, afirmou. “Seria muito mais sensato controlar ou reduzir a formação excessiva de alfa-sinucleína para reduzir a sua superabundância ou impedir que ela escape.”