O ator de 28 anos surpreendeu este sábado, no programa “Alta Definição” da SIC, ao revelar uma história de vida e recordações de uma infância de menino de um bairro da Amadora, totalmente desconhecida do grande público.
Vivia com a avó e um tio, os pais viviam na casa ao lado, “acho que dava mais jeito”. Independentemente das dificuldades e do tio toxicodependente, a avó “mimava-me muito. Apesar do ambiente, de manhã tinha sempre um donut, um leite com chocolate. Tinha assim umas coisinhas queridas de manhã. Vestia-me e estava sempre comigo”.
Conselhos não teve, “nunca houve um ‘tens de seguir isto ou aquilo‘”. Mas tem boas recordações da avó que morreu há 14 anos: “Vêm momentos muito próximos e coisas boas. Ela a chamar por mim no bairro. O problema de alcoolismo era muito complicado…”.
Tinha 15 anos quando a avó morreu: “Fui ter com ela e ela ficou um bocado paranoica. Foi quando vi que a minha avó não estava ali naquela pessoa. Só ria e chorava, não conseguia dizer nada. Eu também chorei. Fartei-me de chorar. Ficámos na sala a chorar e, de repente, digo que vou ao Carlitos (o melhor amigo) despedir-me dele. E quando estou a bater à porta do Carlitos, a minha avó aparece no beco. Sorriu lá ao fundo, a dizer-me adeus. Foi a última vez que eu a vi. Foi uma coisa tão especial. Eu a dizer que me vou embora a pensar que ela não conseguia sair dali e, de repente, está ao fundo da rua a despedir-se. Faleceu dois dias depois. Estava na escola e a minha irmã ligou-me”, descreveu.
As memórias são muitas, das brincadeiras, dos amigos, de coisas boas, mas há outras que marcam para sempre: “Na casa da minha avó a cama (onde dormia com a avó) ficava de frente para a porta. Quando há rusgas, arrombam a porta e ficam ali parados com a shotgun na mão. Ninguém anda na rua. Lembro-me de a minha avó querer sair para ir buscar pão e a polícia não a deixar sair. São essas coisas que mais me marcaram. Lembro-me, pelo menos, de cinco vezes. Depois, uma das vezes, levaram o meu tio e aí foi mais chato”, revelou. “Há certas coisas que me lembro do meu tio, ele já não está cá. Ele dizia-me sempre, ‘não faças isto. Isto vai-te desgraçar’. Dizia-me várias coisas que hoje ainda me lembro”.
Daniel Oliveira questionou o ator sobre o consumo de droga por parte desse membro da família e João Jesus respondeu: “A única coisa de que me lembro era o cheiro a vinagre. A minha avó lavava tudo com vinagre. Até hoje não gosto de vinagre por causa disso. Assistia, mas não tinha a completa noção do que era aquilo. Agia normalmente, como um ser que nasce numa única realidade”.
Com a mãe mantém uma relação de cumplicidade, mas com o pai foi sempre diferente, “tenho relação, ainda hoje falamos, mas essa parte faz-me confusão”, confessa, demonstrando não querer falar sobre o assunto. “Está resolvido. As coisas estão completamente resolvidas. Sentia o carinho de amor e considero-o especial em muitos pontos”, referiu, sem se alongar no tema.
“Às vezes questiono-me se me tornei um bocado frio. Mas gosto de surpreender”, comentou.
“Felizmente apareceu uma pessoa muito importante. Ele namorou com a minha mãe e saímos do bairro”, foi com a progenitora viver para Cascais. O Paulo, companheiro da mãe, teve um papel fundamental na profissão que escolheu.
“Foi ele que me falou da escola (de teatro). Um dia estávamos a andar no centro comercial e ele disse-me para eu endireitar as costas. Ensinou-me algumas formalidades que foram essenciais. E ensinou-me sem eu perceber. E fiquei em casa dele, que é ali na Amoreira, enquanto o tempo em que estudava”, contou, acrescentando: “Está sempre nos momentos mais importantes da minha vida. Nos pontos de mudança há sempre uma conversa entre nós”.
A mãe “é a mulher mais linda do mundo” e incentiva-o, “está sempre a dizer ‘acredito em ti’”. “Houve uma altura em que éramos confundidos com namorados. A minha mãe tem 49 anos. É uma lutadora”.
Na vida do ator há ainda outra mulher muito bonita, a namorada, a também atriz Joana Ribeiro. Apaixonaram-se durante as gravações da novela “Poderosas”, da SIC, em 2015. Desde aí têm mantido uma relação discreta. “Nós gostamos de ser vistos como dois. Cada um tem a sua vida”, confidenciou, assumindo-se como um dos maiores fãs da namorada. “Adoro, excelente. Acho que é das melhores atrizes portuguesas, talvez a melhor”, elogiou o ator que atualmente pode ser visto na novela “Vidas Opostas”, na SIC.