O apresentador de televisão perdeu o pai no dia 6 de fevereiro. António Miguel Manzarra tinha sido diagnosticado com cancro há mais de um ano, o que permitiu que pai e filho tivessem tido “tempo para preparar o inevitável”. O progenitor de João Manzarra dedicou os últimos anos da sua vida à Ordem dos Carmelitas Descalços, comunidade Irmã Lúcia, onde vivia em paz e oração, em Fátima.
Esta quarta-feira, Manzarra deixou nas redes sociais um desabafo, onde exalta a beleza da partida do pai, mas sobretudo de indignação pela “insensibilidade” com que se deparou.
“A partida do meu pai à boleia de um cancro foi simultaneamente o momento mais importante e belo da minha vida. Tivemos tempo para preparar o inevitável com amor e aceitação. Fazem-se escutar as saudades de uma existência plena, mas estou bem.
Apenas partilho estas linhas por ter recebido muitas notificações deste acontecimento em vários meios num tom de profunda tristeza com forte incidência nas palavras choro, sofrimento e luto. Embora não me identifique na forma com que a nossa sociedade lida com a morte entendo que tenham contado assim. Na minha memória fica a paz, o amor, a alegria e a libertação. As lágrimas existiram, mas sentidas como se diante de mim estivesse a acontecer o mais lindo pôr do sol alguma vez visto. Há muita beleza na partida”, começou por contar.
A “parte que é mais triste”, em que “outros foram mais longe”, continuou: “Em setembro de 2018 o meu pai já numa fase bastante avançada da sua doença telefona-me preocupado por ter sido abordado por “fotógrafo e jornalista” da revista TV7Dias à porta de sua casa em Fátima com o objectivo de obter informações sobre o seu estado de saúde.
A minha família sempre teve instruções da minha parte para nunca as prestar por protecção, nunca quis que o meu trabalho interferisse na vida íntima dos que me são próximos. O meu pai, que não é uma figura pública, perdia assim o lugar seguro da sua privacidade e ganhava níveis de stress extra. Entendam a agressividade que é ter uma espera de alguém à porta de casa para extorquir e manipular declarações numa fase tão delicada.
Inspirei devagar. Através da agência que me representa entrei em contacto com o director da revista pedindo encarecidamente para que este momento fosse respeitado, que a situação tinha criado grande incómodo e que a serenidade nesta fase seria mais importante do que nunca. O diretor deu a sua palavra em como não iam publicar. Expirámos de alívio.
Duas semanas depois voltam atrás com a decisão alegando que ouviram dizer que outras publicações já tinham informação e que queriam ser os primeiros. Resultado: mais dias de ansiedade.
Sai então uma capa com o título “João Manzarra sofre em segredo” que o meu pai nunca quis e que quer dizer na verdade “o João sofria em segredo mas nós queremos fazer dinheiro e então fizemos uma capa super sensacionalista revelando esse mesmo segredo com a escolha das palavras mais dramáticas que já sabemos que vendem e com uma fotografia tirada antes de tudo isto acontecer mas que não importa porque ele está com uma expressão bem triste. Acabaram os dias tranquilos, tivemos mesmo de contar este segredo e você não vai resistir”. Só a Tv7Dias publicou. Esta semana enviam um paparazzi ao funeral e fazem mais uma capa com a mesma fórmula mas em vez da doença o tema é já a morte. Ambas as “reportagens” muito mal escritas, cheias de falácias, raciocínios absurdos e um drama altamente forçado. Enfim, um templo de insensibilidade e vergonha alheia”.
Manzarra continuou o seu relado com a “parte prática”: “Além do incómodo, a situação gerou stress e ansiedade. Factores a ter em conta na progressão da doença. Isto é clínico. Esta situação completamente dispensável tirou tempo de celebração de vida ao meu pai. Sejam eles minutos, horas ou dias. O tempo é precioso. Este tipo de publicação não acrescenta nada, só tira. Este tipo de publicação é o homem que cospe no chão.
Quem compra este tipo de publicação está a ser cúmplice. Se encontra este tipo de publicação no café, onde vai arranjar as unhas ou na sala do dentista, exija leitura melhor.
Se alguém levou este tipo de publicação para casa repreenda o seu familiar. Tipo muito mau”.
Para finalizar, o apresentador despediu-se com um abraço e concluiu: “Não referi os nomes dos autores por não se tratar de uma vingança. As pessoas envolvidas sabem quem são, que lidem com a sua consciência. Espero que não se repita com os vivos com quem partilho os dias.
Este não é o tom da vida. Ela é curta demais para perder tempo com os dramas dos outros que só pertencem a eles próprios.
Agora que o mal está feito, se na próxima edição quiserem partilhar alegria em vez de tristeza deixo uma foto tirada no último mês de vida e uma sugestão de legenda: “Sorriso mais luminoso de sempre parte para a eternidade depois de uma jornada épica de distribuição de amor no relvado da vida.”
Assim dizem a verdade e as pessoas ficam bem-dispostas”.