“’E se correr mal?’ e eu disse: ‘Então mate’”
A ex-socialite Maria das Dores, que em 2007 mandou matar o marido, o empresário Paulo Cruz, e foi condenada a 23 anos de prisão, foi entrevistada por Cristina Ferreira.
Recorde-se que Maria das Dores é a mandante do assassinato do marido, pai do seu filho mais novo. A antiga socialite é ainda mãe de David Motta, fruto de um anterior casamento. A mulher perdeu o braço esquerdo num acidente de viação, em 2000. O marido era o condutor, e ela nunca lhe perdoou. Apesar disso, o fascínio pelo “jet-set” continuou, sem que aparentemente esse incidente tenha interferido na sua autoestima.
Foi acusada de ter mandado matar o marido, Paulo Cruz, em fevereiro de 2007, para evitar um divórcio que a deixaria na ruína financeira. O empresário foi atraído a um apartamento em Lisboa e morto com dois golpes de marreta que lhe desfizeram o crânio.
Nunca mais viu o filho mais novo, o Duarte, na altura com 7 anos. Hoje o rapaz tem 20 anos e estuda para ser médico.
“Acho que tudo o que me aconteça de mal, eu mereço” começou por dizer a Cristina Ferreira que foi à cadeia de Tires entrevistá-la.
“A forma como ele foi morto não passou por si?”, questionou a apresentadora. “Não, não, não.. foi horrível o que lhe fizeram”, confessou Maria das Dores em lágrimas, acabando por explicar: “Juro pelos meus filhos que só disse (ao motorista) para lhe bater, e ele disse: ‘E se correr mal?’ e eu disse: ‘Então mate’”.
“Aquilo foi um momento que eu tive. Comecei a pensar em tudo. Fiquei sem um braço. Ele não esteve no velório da minha mãe. Pensei em tudo. Vais-me pedir o divórcio. Vais ficar com o Duarte… Eu, se calhar, vou ficar sem nada. Eu não posso ficar sem o Duarte. Eu sabia que ele me ia pedir o divórcio. Eu não queria. Não sei explicar. Estou tão arrependida”, admitiu.
“Quando entrei na prisão houve um processo de negação; depois a expetativa de visitar o meu filho, a seguir continuei num processo de negação. Dizia para mim mesma que nada tinha acontecido, que estava ali por engano. Três, quatro anos depois, comecei a aperceber-me de que, na realidade, tinha causado uma catástrofe. Tinha vitimizado muita gente. E tinha sido a causadora daquilo tudo. E aí comecei a sofrer, a aperceber-me do porquê. E a fazer introspeções atrás de introspeções (…) Encontrei a resposta. Se bem que é uma resposta que não é por mim aceite. Porque ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. E isso, nunca me vou desculpar. E não vou desculpar-me também de o meu filho não ter crescido com o pai e com a mãe”, revelou.
Quando conheceu o marido que mandou matar, confessa que “foi uma paixão avassaladora”. “Eu era casada. Contrariamente ao que se diz, eu tinha uma vida, trabalhava num banco (…) Não cometi este crime por dinheiro. Cometi este crime por ciúme e por me sentir com a autoestima completamente em baixo. Porque eu era, simplesmente, maltratada”, recordou .
“A Maria mandou matar o seu marido…”, disse-lhe a apresentadora. “Sim (…) Não pensei. Foi da noite para o dia. Foi depois de muita, muita coisa. Muitos episódios de maus-tratos verbais. De me chamar ‘Maria gorda’, de dizer, ‘olha aquela tão gira’. Depois de tantas coisas feias e de eu cada vez me sentir mais pequenina. Quando toda a vida me senti uma mulher segura, uma mulher bonita. Sentia-me uma mulher segura, mesmo com apenas um metro e cinquenta e três centímetros. Era tratada como ‘não tens braço’, ‘pesas 100 quilos‘”, justificou à revista Cristina que amanhã está nas bancas.
Fotos: Capa da revista Cristina