Helena Almeida, de 56 anos, passou a ser cuidadora do António Cordeiro a tempo inteiro.
Diagnosticado no verão de 2017 com uma doença degenerativa incurável – paralisia supranuclear progressiva – o ator, atualmente com 60 anos, tornou-se “de um momento para o outro um homem preso dentro do seu próprio corpo”.
Sem direito a ajudas, remuneração ou dias de descanso, a mulher com que António Cordeiro casou em 2001, falou esta tarde na SIC, no programa de Júlia Pinheiro, um pouco de si e da evolução da doença do marido.
“As coisas não melhoraram, mas também não pioraram”, começou por contar Helena, dando a conhecer que a doença, que “a partir do segundo ano costuma evoluir rapidamente”, estagnou.
Da vida anterior de Helena, não restou nada, “nada, eu não tenho vida, a minha vida gira em torno do António”, explicou a mulher que vive as 24 horas dos seus dias atenta às necessidades do marido.
“Não há ninguém para ajudar?” perguntou Júlia Pinheiro. “Sinto-me desamparada. Há alturas em que uma pessoa se sente completamente desesperada”, confessou Helena, revelando que teve de tirar a carta de condução para poder abastecer a sua casa. As aulas de condução eram das sete da manhã até às nove e “o António ficava deitado”.
As sessões de fisioterapia de António Cordeiro, que têm como foco a prevenção das quedas, têm resultado. Têm como base a atividade física, o fortalecimento muscular, destreza e o equilíbrio. A intensidade vocal com a terapeuta da fala também é primordial, para que o doente se faça entender e “manter o que tem”.
“O António andou numa fase em que caia 15 a 20 vezes por dia em casa, neste momento felizmente não, mas quando vai à casa de banho ou à cozinha ou para onde for, vou atrás dele estilo sombra, a não ser que esteja sentado, e aí ele chama-me ou não, que o António está numa fase em que não quer falar”, sublinhou. Faz parte da doença, mas também de uma possível teimosia ou timidez, pois “ele foi perentório a dizer-me ‘eu não falo porque a minha voz já não é a mesma e eu sou ator’”, lembrou a cuidadora, que apesar de não ter a doença convive com ela 24 horas por dia.
Agradecida aos amigos e terapeutas que têm ajudado neste processo, Helena só conta consigo e qualquer pequena ausência neste processo solitário, é uma preocupação, nunca está descansada, o marido tornou-se a sua “criança grande”.
Helena começou a tomar PROZAC, medicamento indicado para o tratamento da depressão, pois para além do marido tem também de cuidar da mãe e do sogro: “Não tenho empregados, faço tudo sozinha”.
Há 9 anos teve “uma paralisia facial provocada pelo vírus da herpes”. Nessa altura “o António estava bem” e Helena podia fazer a medicação que a deixava completamente derreada, “neste momento não posso fazer a medicação porque o António precisa de mim” e com os medicamentos que deveria tomar sabe que fica “sem capacidade de cuidar dele”.
“Quando olha para os olhos do seu marido o que é que vê?”, questionou Júlia Pinheiro, ao que Helena respondeu: “Uma revolta enorme… tirarem-lhe aquilo que ele mais gostava de fazer que era trabalhar”.
“Ele está perfeitamente lúcido, funciona a nível cognitivo sem problema nenhum. Acompanha o “Golpe de Sorte”, olha para aquilo e diz ‘caramba eu podia estar ali’”.
Ciente das suas responsabilidades e do seu amor pelo marido, Helena Almeida afirmou: “Eu não vou abandonar nunca o barco, a não ser que eu caia”. No entanto, admite não fazer nada por si apesar dos inúmeros apelos de quem lhe quer bem, pois não tem tempo: “Eu adorava, mas como é que eu faço? Eu faço o quê ao António?”