“E a vida continua surpreendentemente bela/Mesmo quando nada nos sorri”, ouve-se em “Simples Assim”, o mais recente single de Alberto Índio. Numa fase complicada a nível pessoal, o músico portuense pegou na letra do tema escrito pela dupla Lenine/Dudu Falcão e envolveu-o ao seu estilo para surpreender em plena pandemia.
“Peguei nesta canção e interpretei-a à minha maneira refazendo os arranjos e traduzindo a letra para português de Portugal. De tanto trabalhar a música até chego a sentir a música como minha”, confidencia o artista, em conversa com a Move Notícias.
Para Alberto Índio “é muito fácil ser feliz”: “As coisas simples da vida são as que mais prazer nos dão e tivemos a prova disso nesta altura que vivemos devido à pandemia do coronavírus. Foi dessas coisas que mais falta sentimos”.
O regresso à música coincidiu com a luta da única filha, Inês, de 13 anos, contra um tumor. O ano passado, “foi-lhe diagnosticado um Sarcoma de Ewing no úmero do braço direito. Graças a Deus, localizado numa fase inicial o que fez com que o prognóstico fosse mais positivo”.
A adolescente foi operada em abril e o pai atribui “a sua excelente recuperação à força e à boa energia dela em conjunto com a fantástica equipa do serviço de Oncologia do hospital de São João”. “São anjos na Terra e farão para sempre parte da nossa família. Um obrigado especial à doutora Maria do Bom Sucesso (coordenadora do serviço) e ao Doutor Filipe Duarte (médico ortopedista cirurgião)”, acrescenta o músico.
A lidar com a doença da filha, no início do ano, o artista foi ainda surpreendido com o fim da relação de sete anos com a radialista Joana Cruz que já “faz parte do passado”. Nessa fase “foi, acima de tudo, difícil gerir a dor de ter uma filha doente. O resto relativiza-se, pois nestas alturas sentimos que há uma espécie de filtro de pessoas que ficam connosco e fazem questão de estar. Nunca me esquecerei de quem esteve e fez questão de me dar a mão. Não sou um super herói. Foi crucial para mim sentir-me apoiado por quem realmente nos ama. Quem não quis estar foi porque achou que não devia… Sem ressentimentos pois sou uma pessoa de fé e acredito piamente que o melhor da minha vida e da Inês está ainda por vir. Desejo o mesmo à Joana”, confessa.
Sem delongas, Alberto Índio não esconde que “foram tempos de angústia”. Mas “namoradas há muitas, filha só tenho esta e é o amor da minha vida”, sublinha, orgulho da herdeira que, apesar de muito jovem, revela um estilo cheio de atitude. “Sai a mim“, brinca.
Com ou sem mágoas, a verdade é que as experiências ajudaram “a perceber que a música tem um efeito mágico e ansiolítico”: “Música é arte e uma forma de expressão de emoções e sentimentos utilizando a combinação de sons e silêncio assim como a linguagem convencional conjuga as palavras. Sinto-me abençoado por ser viciado nessa droga! Lava-me a alma e quando há honestidade no processo criativo também se percebe no produto final”.
“Simples assim” transmite optimismo e serve de rampa para o músico preparada o seu quarto álbum. “Conto no final do ano ter o disco acabado com toda a certeza! Nunca o meu processo criativo esteve tão iluminado”, garante.
A ligação com a filha “já era muito forte“. No entanto, as adversidades, tornaram-na “indestrutível”. “Estamos em plena sintonia. Queremos muito viver para sempre assim em harmonia e paz!”, jura Índio.
Depois da primeira versão, o artista decidiu fazer um sentido vídeo com o tema para “homenagear outros pais que sentem este mesmo amor Pai/Filha”. A ideia surgiu quando “assistia às notícias terríveis sobre o assassinato da pequena Valentina em Peniche” pelo próprio pai.
“Decidi então mostrar o reverso da medalha. O amor incondicional de um pai é insubstituível e deixará para sempre marcas na vida de um filho. Tive muitos pais que se quiseram juntar à causa o que me encheu a alma. Entre caras conhecidas e desconhecidas acho que o produto final deixa bem espelhado esse tal lado bonito em que acredito que é possível viver”, conclui, parafraseando John Lennon: “Imagine all the people, living life in peace. You may say, I’m a dreamer but I’m not the only one”, ou seja, “imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz. Você pode dizer que eu sou um sonhador mas eu não sou o único”. Ouça “Simples Assim”: