Não há portuense que se preze que não viva o São João com o rigor que a tradição impõe. Este ano a pandemia do novo coronavírus ditou outras regras, mas em casa de cada tripeiro vai haver festa, e da rija.
E é nestas alturas que ser imigrante mais custa, que o diga Gonçalo Paciência, que longe da sua terra, sente hoje, mais do que nunca, o peso da palavra “saudade“. A viver na Alemanha, onde está ao serviço do Eintracht Frankfurt, o futebolista recorda num texto emotivo as “Fontainhas“, o ponto de encontro para “dividir tarefas entre amigos“, com “balões, música, cerveja, sardinhas, carne e a grelha“.
“É ali que sinto o meu Porto. Um olhar para o Douro e para a ponte, tão entusiasmante e apaixonante como se fosse a primeira vez que viesse à cidade“, descreve nostálgico admitindo ser a noite 23 de junho a mais desejada, aquela que “todos os anos esperamos“.
“Quem passa na rua, vai mais cedo para garantir o lugar, ali não há estatutos, não há diferenças, não há norte, não há sul, nem centro, não há cores , há o PORTO, há festa, há lugar para todos, há o nosso S. João“, retrata saudoso.
Fazendo jus à fama de bons anfitriões, lembra “os que passam e ‘cobiçam’ a grelha, e pedem para a usar, a resposta é sempre um SIM como se de um familiar se tratasse! Recebemos, cuidamos e durante a noite é um dos nossos“.
Depois vem a arruada “de marteladas ao alho porro, ‘por ruelas e calçadas… por pedras sujas e gastas’, de roulote em roulote, pronúncia do norte vincada, bailaricos na Foz, Massarelos e Miragaia subimos à baixa, enchentes nos aliados, o fogo à meia noite é na ribeira, as margens do rio repletas, os céus iluminados e aquele cheiro inesquecível a uma bela noite de São João“.
Ninguém perdoa, ninguém fica em casa, “ao sol ou à chuva, com frio ou calor, é a noite mais longa do ano“.
“Dos mais novos aos mais velhos, não há idades, todos passeiam, todos dançam, todos resistem, ninguém recua! Por entre conhecidos, amigos de amigos, e desconhecidos, por entre caras conhecidas, e outros que não se conhece, mas sabe-se quem é, o Porto sai à rua, juntos e orgulhosos de tão ‘bairristas’ que somos“, pormenoriza o atleta evidenciando a melancolia que lhe vai na alma. “Contra ninguém, nem com complexos de inferioridade mas com um amor louco pelo local onde nascemos! Nem pequenos nem maiores, Iguais“, apenas “Sempre Nobres e Leais“.
“Invictos, e ‘sem filtro na linguística (será sempre a nossa) maior característica’, um fino será sempre um fino, e nunca uma imperial, pediremos sempre um cimbalino, ao invés de uma bica, e trocaremos sempre os V´s pelos B´s“, aponta orgulhoso o filho da antiga glória dos relvados Domingos Paciência.
Apesar de longe, Gonçalo está atento ao que se passa na sua cidade, sabe que “trocaremos as ruas, por casa e as aglomerações por grupos pequenos, sempre com todas as medidas a que o momento nos pede“. Devido às restrições impostas pela pandemia da covid-19, a Câmara do Porto anunciou que na noite de São João, de 23 para 24 de junho, não haverá transportes públicos, nem música, nem fogo-de-artifício, e as ruas terão fiscalização e policiamento reforçados, mas “terminaremos sempre a noite com um caldo verde“.
“Desfrutem, cuidem-se e continuem a dar o exemplo“, conclui o desportista, desejando do coração um “bom São João🎈 ao Porto e ás suas Gentes“.