Cultura

Neta de Eunice Muñoz junta-se às vozes contra “a fantochada em que a TVI se tornou”

Indignação e tristeza aumentam no meio artístico. Depois da manifestação pública de revolta do ator e cantor Gonçalo Ícaro, foi a vez da atriz Margarida Bakker, filha de Alexandra Lencastre, e da atriz Lídia Muñoz, neta de Eunice Muñoz, expressarem o mesmo sentimento nas redes sociais.

Em causa está o facto da filha de Maria Cerqueira Gomes ter sido escolhida para protagonizar uma novela da TVI.

Margarida Bakker, de 24 anos, licenciada na arte de representar pela Escola Superior de Teatro e Cinema apresentou-se como atriz que é – mas também, ironicamente, como “filha da Alexandra Lencastre“, pois há quem diga que isso a define – “para falar da preferência que se dá à beleza e ao número de seguidores ao invés da formação e talento“.

Agora foi a vez de a neta da veterana atriz Eunice Muñoz partilhar o seu descontentamento em relação à escolha da diretora de Entretenimento e Ficção da TVI, ao ter contratado Francisca Cerqueira Gomes, que não tem formação em representação, mas tem muitos seguidores nas redes sociais.

Estudei para ser atriz. De todos os atores e profissionais que conheci, desde miúda, no Teatro Nacional e pelos teatros por onde passou a minha avó, notei-lhe a todos uma coisa em comum: a formação profissional e académica e o orgulho que tinham nisso. Foi assim que aprendi, com eles e com a minha avó Eunice”, frisou Lídia Muñoz.

A atriz, continuou a fundamentar as suas críticas, incluindo Pedro Teixeira na discussão, por causa das declarações que este teceu no sábado, ao lado de Cristina Ferreira e Maria Cerqueira Gomes, na emissão comemorativa dos 28 anos da TVI. O ator, amigo pessoal da apresentadora da Malveira, desvalorizou a formação, revelando que também ele não a tinha quando se estreou na série “Morangos com Açúcar”, dando assim o mote para que a ‘patroa’ se justificasse publicamente com uma verdade de La Palice: “Há pessoas que estudaram e não são boas e há pessoas que não estudaram e são extraordinárias”.

Mas, pelos vistos, estavam errados, e estiveram todos, desde ali até Almeida Garrett, que deveria ter sido saneado e substituído pela Cristina Ferreira para que fundasse não o conservatório para as artes dramáticas mas o INCQBA55MS (instituto nacional cheira-me que é boa para as audiências porque tem 55 mil seguidores), cujo subdiretor ter sido o Pedro Teixeira, que defenderia a política ‘não tens curso, não estudaste, cheira-me que és muito bom, anda lá que bates bem’, como diria esse grande poeta e dramaturgo Cristiano Ronaldo (cujo mérito é inegável), porque na verdade Gil Vicente é nome de clube e até faz hat-tricks ao serviço da Juventus”, ironizou Lídia Muñoz.

A neta de Eunice Muñoz prosseguiu, depois de “um momento de neurodepressão degenerativa causada pelo serão da TVI”: “Enfim, como hoje ouvi nessa grande festa do aniversário do último bastião da grande representação portuguesa e da ficção nacional que é a TVI, e dos castings também, quando esta merd* acabar, vou para um destino de sonho e pode ser que encontre uma dessas grandes atrizes, ou melhor atrozes, da ficção nacional para me dar umas aulas de performance ou mesmo estética teatral”.

Deveras zangada com toda a situação, Lídia Muñoz satirizou a situação, sugerindo fazer “só uma publicidade a uma marca de shampoo seco de laranjas da Califórnia com propriedades místicas, como as tostas, e, pronto, sou atriz para a vida toda, como naquela música da [Carolina] Deslandes, que mesmo assim é a única que tem qualidade no meio deste disparate todo e que, aliás, não foi à festa porque, se calhar, até estava a ver a SIC, que, apesar de tudo, tem algum juízo e emprega atores de verdade ao invés desses bonecos de plástico que mais parecem manequins da loja dos trezentos vestidos com umas bujigangas quaisquer como a telenovela nos tem habituado!

Até lá, podemos entreter-nos com a fantochada em que a TVI se tornou (…)”, sublinhou a artista, que terminou com um oportuno “alegadamente” e a assinatura “L. Muñoz”, lembrando: “Já que o nome vale tudo, estou a fazer-me ao casting”.

Foi criada uma petição para dignificar profissão de Ator/Atriz.

Para que todos os Actores e Actrizes em Portugal possam ver a sua profissão dignificada, para que possam ver a sua profissão ser exercida por colegas e profissionais com formação e/ou experiência relevante para a mesma, aumentando assim a qualidade do produto final que chega ao público, e para que tenham sobretudo o acesso às mesmas oportunidades de trabalho na área da televisão, do cinema e do teatro. Exigimos a Carteira Profissional de Actor para que se possa exercer a profissão de uma forma profissional em Portugal“. Veja aqui.