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Vaticano dá o primeiro passo no caminho para a santidade Gaudí

O Papa aprovou, esta segunda-feira, 14 de abril, o decreto que reconhece as “virtudes heroicas” do arquiteto espanhol Antoni Gaudí, conhecido como o “arquiteto de Deus” pelo seu trabalho na construção da Basílica da Sagrada Família, em Barcelona.

Gaudí era um homem piedoso que trabalhou por mais de 40 anos na Sagrada Família, a maior igreja católica romana inacabada do mundo, um património mundial da Unesco e uma das maiores atrações turísticas da Europa.

Mais do que um arquiteto, foi um artista completo que deu uma demonstração da sua genialidade e sensibilidade em cada uma das suas obras, com o seu estilo único e inconfundível. Oito das suas obras são atualmente Patrimônio da Humanidade.

Gaudí teve três grandes paixões ao longo da sua vida: a natureza, a arte e a religião.

Hoje, o Papa Francisco recebeu o prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, o cardeal Marcello Semeraro, e assinou, entre vários decretos, um sobre o arquiteto espanhol nascido a 25 de junho de 1852.

O Pontífice reconheceu as virtudes heroicas de Antoni Gaudí, tornando o grande expoente do modernismo catalão venerável. Segue-se agora a “aprovação de um milagre”, para completar o processo.

O caminho para ser considerado santo pela Igreja Católica tem várias etapas: a primeira é ser declarado “Venerável Servo de Deus”, título dado a uma pessoa morta que é reconhecida por ter “vivido as virtudes de forma heroica”, o segundo, abençoado beato e, o terceiro, santo.

Esta é mais uma fase no processo que deverá levar Gaudí à sua proclamação como beato. Esta será a penúltima etapa para a declaração da santidade, explica o comunicado da Cidade do Vaticano.

Para que uma pessoa venerável seja beatificada, deve ter ocorrido um milagre por sua intercessão, e para que seja canonizada ou tornada santa, deve ter ocorrido um segundo milagre por sua intercessão, depois de ter sido proclamada bem-aventurada.

O processo de beatificação do arquiteto foi iniciado há 30 anos pela Associação Pró-Beatificação de Antonio Gaudí, fundada em 1992 e presidida pelo arquiteto José Manuel Almuzara. Mais tarde, o cardeal e arcebispo de Barcelona, Juan José Omella, fundou a Associação Canónica, que sucedeu à associação civil.

A nova associação acelerou o processo enviando a “positio” – os argumentos fundamentais para a causa de beatificação de Gaudí, para o Dicastério para as Causas dos Santos em 2023.

Segundo a associação canónica, Gaudí foi “uma testemunha de fé, um homem de fé, um grande observador da natureza e um arquiteto brilhante, tornando-se uma figura universal na arquitetura moderna. O seu contributo para esta disciplina rompeu com as normas estabelecidas. O testemunho de fé que ofereceu durante a sua vida está registado na sua obra mais importante, a Sagrada Família, em Barcelona”.

Em março de 2000, a Santa Sé autorizou a abertura formal do processo de beatificação diocesano, o que levou à criação do tribunal correspondente para investigar a reputação de santidade.

Em 2026 será assinalado o centenário da morte de Gaudí
Gaudí morreu aos 73 anos anos e deixou uma obra que marca o caráter modernista de Barcelona, com projetos como os das casas Vicens, Batlló e Millá, do Parque e do Palácio Guell ou da “Finca” Miralles.

A Basílica da Sagrada Família foi encomendada em 1883 e, a partir da década de 1910, Gaudí dedicou-se em exclusivo à concretização dessa obra.

A 7 de junho de 1926, Antoní Gaudí foi atropelado por um elétrico, em Barcelona, Espanha, quando ia rezar à igreja de San Felipe Neri. A sua humilde aparência impediu o seu reconhecimento na altura do acidente, por isso foi levado para o Hospital da Santa Cruz, o hospital para os pobres da cidade. Após receber os últimos sacramentos, morreu três dias depois, a 10 de junho.

Cerca de trinta mil pessoas participaram do cortejo fúnebre.

Gaudí encontra-se sepultado na Basílica que projetou e cuja conclusão é esperada para 2026.

Antonio Gaudí, “arquiteto de Deus” 
Segundo a Vatican News,  a sua obra mais conhecida é a Basílica Expiatória da Sagrada Família. Antonio Gaudí i Cornet, nascido em 25 de junho de 1852, provavelmente em Reus, aceitou dirigir as obras no ano seguinte ao lançamento da primeira pedra, em 1883, aos 31 anos.

Desde então dedicou toda a sua vida à construção do local de culto no qual manifesta o seu génio artístico, o seu sentimento religioso e a sua profunda espiritualidade.

Apenas 5 anos antes, tinha obtido o título de arquiteto e escrito algumas notas de arquitetura – conhecidas como o “Manuscrito de Reus” – nas quais avançou as suas propostas sobre ornamentação e sobre edifícios religiosos e mostrou um conhecimento notável e adesão ​​aos mistérios da fé cristã.

O jovem Gaudí considerava a Sagrada Família uma missão que lhe fora confiada por Deus e, com essa consciência, transformou o projeto neogótico originário em algo diferente e original, inspirado nas formas da natureza e rico em simbolismo, que expressa sua profunda fé e espiritualidade, que tem influências beneditinas e franciscanas. Devoto de São Filipe Néri, o arquiteto enfrenta obstáculos e dificuldades com coragem e confiança em Deus enquanto dirige o canteiro de obras e também suporta inveja e ciúme.

De 1887 a 1893, ele projetou e dirigiu outras obras civis e religiosas. Depois, durante a Quaresma de 1894, foi acometido por uma grave doença, causada por um jejum rigoroso que, embora colocasse a sua vida em perigo, o fez viver uma profunda experiência espiritual na sua busca por Deus.

Superada a crise, continuou a trabalhar em vários projetos, mas, tendo perdido gradualmente todos os seus familiares, iniciou uma verdadeira ascese espiritual, recusou novos trabalhos e concentrou-se exclusivamente na Sagrada Família, tanto que em 1925 adaptou um pequeno quarto ao lado da igreja como sua residência.

Cristão convicto e praticante, assíduo aos sacramentos, faz da arte um hino de louvor ao Senhor, a quem oferece os frutos do seu trabalho, que considera uma missão para fazer com que as pessoas conhecessem e se aproximassem de Deus.