Um manifesto público, criado pelos mesmos organizadores da petição a favor da manutenção das obras de Joan Miró em Portugal, vai ser enviado na próxima semana ao Governo e à Parvalorem, a pedir a exibição dos quadros no país, noticia a agência “Lusa”.
De acordo com o galerista Carlos Cabral Nunes, um dos responsáveis pela petição “Manutenção em Portugal das obras de Miró”, lançada em janeiro deste ano, e que reuniu mais de 10 mil assinaturas, o manifesto público vai ser ultimado durante o fim de semana.
“A ideia é partir da petição, que continua ativa, e reunir as pessoas que apoiaram essa iniciativa, um mês depois do seu primeiro encontro”, disse o curador e um dos fundadores do Coletivo Multimédia Perve, em Lisboa, que gere a Casa da Liberdade – Mário Cesariny.
Foi a petição pública lançada em janeiro que primeiro suscitou o debate sobre a saída dos 85 quadros de Joan Miró (1893-1983), que faziam parte dos ativos financeiros do Banco Português de Negócios (BPN) nacionalizado pelo Estado, e que o Governo decidiu vender em Londres, num leilão internacional.
Depois de ter sido rejeitada no parlamento uma proposta de resolução do PS para a suspensão da venda das obras, um grupo de deputados socialistas pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) que requeresse, nesse sentido, uma providência cautelar junto do Tribunal Administrativo de Lisboa.
A Christie´s, leiloeira contratada pela empresa Parvalorem, encarregada de gerir a dívida do banco, acabaria por cancelar o leilão, a 04 de fevereiro – o primeiro dia previsto para a venda -, na mesma data em que o Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa anunciava ter indeferido uma providência cautelar interposta pelo Ministério Público a pedir a suspensão da venda.
Apesar de ter rejeitado a providência cautelar, o Tribunal apontou ilegalidades no processo de expedição das obras.
“A petição representa um movimento cívico com todo o tipo de pessoas, desde artistas, estudantes, deputados conhecidos e pessoas anónimas que defendem a manutenção das obras no país”, sublinhou Cabral Nunes em declarações à “Lusa”.
Apontou ainda que “o Governo já disse publicamente que mantém a decisão de venda dos quadros, mas, se assim for, é um processo que vai durar pelo menos um ano, devido à entrada de processos nas instâncias judiciais”.
“Entretanto, o Governo poderia exibir as obras publicamente, durante uns quatro meses, em museus de Lisboa e do Porto, dando finalmente a possibilidade do público português de apreciar essas obras. Com o mediatismo entretanto alcançado, seria possível obter um retorno financeiro significativo”, sugeriu o galerista.
Carlos Cabral Nunes fez um esboço de um texto do manifesto público que vai apresentar à apreciação do movimento peticionário, numa sessão que decorrerá no sábado, às 18:00, na Casa da Liberdade, em Lisboa, de entrada livre, “para todos os que o quiserem assinar”.
Indicou ainda que, às 16:00 do mesmo dia, está prevista uma intervenção no Museu Berardo, no Centro Cultural de Belém, pelo historiador de arte Rui Mário Gonçalves, inserida no ciclo “As Escolhas dos Críticos”, sobre uma tela de Joan Miró existente na coleção do empresário.
O movimento cívico defende “uma avaliação competente das obras para se fazer uma análise mais substantiva do impacto deste conjunto artístico no país”. “Só depois se deve decidir o seu destino, eventualmente o que vale a pena ficar em Portugal, e o que deve ser vendido”.
Nas últimas décadas, destacam-se duas expeosições exclusivamente dedicadas ao artista catalão, em Portugal, nomeadamente “Os Mirós de Miró”, na Fundação de Serralves, em 1990, e as “Constellations de Joan Miró”, na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, em 1998.
Na altura, a fundação considerou importante apresentar ao público português estas obras em guache, porque nelas tiveram origem algumas das mais conhecidas telas de Miró.