Um novo estudo reforçou as crescentes evidências de que exames anuais de mamografia não reduzem o risco de uma mulher morrer de cancro de mama e confirma descobertas anteriores de que muitas anomalias detectadas por esse meio nunca seriam fatais, mesmo que não fossem tratadas.
O estudo, publicado no “British Medical Journal”, é o mais recente contributo num debate de décadas sobre os benefícios de mamografias. A pesquisa decorreu durante 25 anos com 89.835 mulheres no Canadá, com idades entre os 40 e os 59 anos, e reuniu ao acaso voluntárias para fazerem exames anuais de mamografia mais a avaliação da mama por apalpação ou só a avaliação física.
As mulheres começaram a fazer mamografias de 1980 a 1985. Na época, os médicos acreditavam que esse exame salvava vidas ao detectar cancros em estágios iniciais, considerados mais tratáveis do que os detectados mais tarde, especialmente em mulheres entre os 50 e 64 anos.
No entanto, o estudo “não constatou uma redução na mortalidade por cancro de mama com exames de mamografia”, escreveram os cientistas, “nem em mulheres na faixa dos 40-49 no início do estudo, nem nas de 50-59”.
As descobertas confirmam outras pesquisas, como um estudo de 2012 publicado no “New England Journal of Medicine”, que concluiu que as mamografias “estão a ter, no máximo, só um pequeno efeito na taxa de morte por cancro de mama”.
Com base em descobertas semelhantes nos anos de 1990, um painel independente de peritos médicos dos Serviços Preventivos dos EUA recomendou, em 2009, exames a cada dois anos para mulheres entre os 50 e os 74 anos, em vez da orientação anterior de que começassem a fazer mamografias a cada um a dois anos a partir dos 40 anos.
Os defensores das mamografias costumam argumentar que as mulheres cujo cancro de mama é diagnosticado apenas através desse exame vivem mais do que aquelas cuja doença é constatada pelo exame físico. Aquele estudo também observou esse aspecto, mas a aparente vantagem é ilusória, concluíram os pesquisadores.
Argumentam que se um cancro é suficientemente agressivo e resistente a tratamento, provavelmente será fatal, independentemente de quando tiver sido detetado.
As mamografias, constatou o estudo, elevam o tempo conhecido de sobrevivência sem afectar o curso da doença. Além de não reduzir a mortalidade por cancro de mama, de acordo com o estudo, as mamografias estão a provocar uma epidemia do que os pesquisadores chamam de “excesso de diagnósticos”.
Quase 22% dos cancros invasivos detectados por mamografias eram inócuos, o que significa que não iriam causar sintomas ou morte para a mulher.
Tal representa um diagnóstico exagerado de cancro de mama para cada 424 mulheres que fizeram mamografia, calculam os pesquisadores, liderados pelo epidemiologista Anthony Miller, da Universidade de Toronto.
Os especialistas sublinharam que os resultados podem não se aplicar a países onde o acesso a tratamento avançado de cancro é limitado.
No entanto, em nações como as da América do Norte e Europa, escreveram os cientistas, «os nossos resultados apoiam a visão de alguns de que a lógica de exame de mamografia deveria ser urgentemente reavaliada pelos órgãos responsáveis pelas políticas» de saúde, já que mamografias anuais «não resultam na redução da mortalidade específica por cancro de mama para mulheres entre os 40 e 59 anos, além da realização de exames de apalpação ou cuidados normais».