De chorar por mais

Restaurante Dom Peixe

Ilustríssimo Peixe

Estamos, como sempre disse, prestes a fazer justiça à nossa gastronomia. Não, não falo do quase “revolução urbana” que transformou casas de pasto ou antigas tascas em lugares incríveis de peregrinação gastronómica.

Essa é uma tendência, certo, provavelmente passageira mas seguramente reveladora do empreendedorismo do povo português e do erguer de uma geração que deixou de ter complexos com os tachos e se afirma numa cozinha criativa e independente.

Acho que com tempo descobrirão o seu “étimo”, as suas raízes e trocarão a bruscheta pelo pão alentejano e as sangrias de espumante pela frescura borbulhante de uma espadal feito no escorrer da casta avesso, única no Mundo.

Depois da Unesco ter reconhecido como património imaterial a dieta mediterrânica, eis que alguns investigadores, analistas, gastrónomos, nutricionistas, começam a enaltecer as virtudes daquilo a que já conseguimos chamar a economia azul.

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Mediterrânicos sim, na diversidade do terroir, na força dos caldos onde hortícolas se enaltecem, na textura aveludada do azeite, na qualidade dos hidratos que usamos ao longo dos séculos – primeiro a castanha, depois a batata e o arroz. Em tanta coisa que partindo de uma cozinha familiar, pobre na maioria das suas matérias-primas, sempre foi rica e equilibrada no aproveitamento da circunstância – tudo o que a terra dava e no tempo em que esta se concretizava – no momento certo em que a terra dava.

Mas para se cumprir esta dieta eis que, como nos reencontros da história voltamos a namorar o Mar português. O Mar que nos fez grandes e que com arrojo e sabedoria das poliíticas públicas e privadas, poderá voltar a levar-nos a uma ribalta de que o Tempo nos arredou. O tempo e a negação da nossa identidade – a tal tentação que temos para imitar o que não somos, o que não temos, o que não chega a ser melhor do que nós.

O Mundo descobriu o peixe e percebeu que a costa Atlântica é o seu terroir de excelência. E mal de nós se não soubermos acrescentar à nossa inspiração mediterrânica a nossa essência atlântica. Ganhando em tudo – na tendência, na moda, na saúde, na plasticidade da nossa oferta feita de uma mistura harmoniosa do nosso receituário antigo com este empreendedorismo que desponta em Portugal e que tudo faremos para que seja orientado para as “coisas nossas”.

Rui Sousa Dias tem sido dos mais destacados visionários desta nova realidade. Como empresário e dirigente associativo, ali está a juntar a teoria à prática e a explicar “no terreno de jogo” o valor desta nova gastronomia.

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Um dos seus santuários leva o sangue azul desta nova economia que desponta a partir do mar. De facto, tem o nome fidalgo de Dom Peixe. E bem merece porque a nobreza com que é tratado o peixe e o marisco projetam o dom Peixe para um círculo íntimo e curto dos grandes restaurantes do mar.

Entre que a casa tem o asseio e a elegância do casal que a dirige. E deixe-se tentar por umas pataniscas, um escabeche de petinga, umas lulinhas grelhadas, uma ovas cozidas, tudo com azeitonas, bom pão de centeio e uma boroa de fazer inveja.

Prove uma sopa do mar e sente-se logo mergulhado nas suas mais íntimas fragrâncias. Depois arrisque-se nuns belíssimos salmonetes com arroz de berbigão, ou tente-se num soberbo rodovalho que tão bem liga com o arroz de espigos e feijão que o Rui Sousa Dias nos leva à mesa.

No Dom Peixe não há pobreza no peixe. Porque até a sardinha é fidalga e orgulhosa da sua gordura que quase pinga no pão quando lhe retiramos a crosta salgada.

O Rui também é uma espécie de Mourinho da gastronomia. Porque é um construtor de grandes equipas. Um dos segredos dos seus restaurantes está no rigor, simpatia e empenho do serviço que o Rui tão bem sabe montar.

Belíssima carta de vinhos. Sobremesas tradicionais – com o leite-creme e as peras borrachonas no cimo da lista.
Agora que a gastronomia se pinta de azul, não deixe de vir a este santuário do peixe, ali mesmo à porta da doca, onde mora a grande fidalguia do Mar.

Dom Peixe

Restaurante Dom Peixe
Rua Heróis de França, 241
4450-158
Matosinhos
Tlf.: 224 927 160
E-mail: [email protected]