Uma menina, de apenas um ano, sofria de leucemia e viu a doença ser revertida após se submeter a um tratamento inédito e inovador na Inglaterra. O caso foi parcialmente divulgado pelo hospital britânico Great Ormond Street, que tratou a paciente. A história será relatada durante o Encontro da Sociedade Americana de Hematologia, em dezembro, em Orlando, nos Estados Unidos.
Layla Richards nasceu em junho do ano passado e aos três meses de vida foi diagnosticada com leucemia linfoide aguda. A menina foi submetida a tratamento de quimioterapia e transplante de medula, mas, como é esperado em bebés muito novos, os tratamentos não tiveram efeito. As taxas de cura nesta fase são de apenas 25%.
Assim, os médicos aconselharam a família a colocá-la sob cuidados paliativos. Os pais de Layla recusaram essa opção e insistiram com os tratamentos. Os médicos do hospital Great Ormond Street, em Londres, sugeriram a terapia conhecida como “designer immune cells” (“células imunológicas projetadas”, em tradução livre), que utiliza tecnologia de ponta para edição de genoma.
O tratamento só tinha sido aplicado em laboratório, mas surgiu como única opção para Layla. “Fiquei assustado em pensar que o tratamento nunca tinha sido usado em humanos, mas não tive dúvidas. Ela estava doente, a sentir muitas dores, e nós tínhamos de fazer alguma coisa”, disse Ashleigh Richards, pai da criança.
A técnica foi colocada em prática após a equipa médica, em conjunto com o fabricante da tecnologia, a Cellectis, conseguirem uma permissão especial para tentar uma terapia experimental com Layla. O procedimento consiste em alterar o DNA de linfócitos T (células imunológicas) de um dador, com a ajuda de tesouras microscópicas, conhecidas como Talens. As células alteradas têm a função de procurar e matar apenas células do tumor e são “invisíveis” para os medicamentos tomados pela paciente.
As células modificadas foram então injetadas em Layla e em apenas algumas semanas os médicos perceberam que o tratamento estava a surtir efeito. Quando se certificaram de que as células leucémicas tinham sido removidas, os médicos realizaram um novo transplante de medula óssea para substituir o sistema imunológico da menina, que tinha sido destruído pelo tratamento.
Layla precisou passar alguns meses em isolamento para se proteger de infeções, enquanto o seu sistema imunológico estava fragilizado. Agora, a criança está a recuperar em casa e apenas vai ao hospital apenas para realizar check-ups.
Embora ainda seja muito cedo para dizer que Layla está curada, ela não apresenta mais traços de leucemia no seu corpo. “Só vamos saber se ela está curada daqui a um ou dois anos, mas ter chegado tão longe já é um passo enorme.”, disse, Paul Veys, do hospital Great Ormond Street.